SUL GLOBAL

União Africana no G20: um salto geopolítico e econômico do continente

Criado em 2002, a União Africana (UA) representa 20% do território mundial. Bloco regional estreia este ano como membro permanente do G20, oferece novas perspectivas para o grupo e fortalece a pauta dos países do Sul Global

22/01/2024 08:19 - Modificado há 6 meses
União Africana | Crédito: UA Divulgação

Até a entrada da União Africana (UA) como membro efetivo do G20, a África do Sul era o único integrante do continente africano no grupo. Antes organização internacional convidada, a UA recebeu o status de membro pleno na cúpula do G20 em Delhi, na Índia, no início de setembro de 2023.

A medida dá ao continente o mesmo status que a União Europeia e outros 19 países. O bloco representa cerca de 20% do território mundial e abriga uma população jovem, com potencial produtivo acima da média de outros países.

A professora do departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora do Centro Brasileiro de Estudos Africanos (Cebrafrica), Analúcia Danilevicz Pereira, destaca que, enquanto a população mundial envelhece, a população jovem africana deverá duplicar até 2050. O dado sinaliza um importante potencial de força de trabalho, mas também indica um crescimento econômico ascendente.

A região detém 60% dos ativos de energia renovável do mundo e 50% dos minerais essenciais para tecnologias de baixo carbono, o que posiciona a África como uma potência emergente na economia global.

Economicamente, a União Africana possui um PIB combinado significativo de cerca de US$ 3 trilhões, com uma riqueza abundante em recursos naturais. A região detém 60% dos ativos de energia renovável do mundo e 50% dos minerais essenciais para tecnologias de baixo carbono, o que posiciona a África como uma potência emergente na economia global. É a terceira região mais populosa do mundo, atrás de China e Índia.

A União Africana é uma evolução das primeiras organizações políticas multilaterais africanas, a primeira delas a organização da Unidade Africana, criada em 1963, no contexto do boom emancipatório de independência dos países africanos. Em 2002, a Organização da Unidade Africana foi transformada em União Africana, uma organização continental que integra todos os países.

União Africana no G20 e impacto na governança global

Sob a presidência brasileira, o G20 enfrentará os desafios relacionados à reestruturação da governança global. A entrada da União Africana no G20 está alinhada a essa meta, proporcionando uma voz mais representativa para os países do chamado Sul Global. Analúcia Pereira ressalta que a presença africana pode desempenhar um papel crucial na reformulação da agenda econômica global, oferecendo novas perspectivas e abordagens.

Analúcia Pereira ressalta que a presença africana pode desempenhar um papel crucial na reformulação da agenda econômica global, oferecendo novas perspectivas e abordagens.

Ela destaca que a União Africana, ao se integrar ao G20, terá que superar desafios internos, como a unificação de agendas entre seus membros, para influenciar efetivamente as decisões globais. Ao mesmo tempo, a presença africana no G20 oferece uma oportunidade única para o continente influenciar em políticas econômicas e financeiras globais, refletindo suas necessidades e objetivos de desenvolvimento.

Para a pesquisadora, trata-se de um avanço geopolítico importante que reafirma que “mostra um amadurecimento e uma posição que também vai se refletir na política externa desses jovens estados mas, principalmente, numa necessidade que o ingresso no G20 produzirá e que terá que ser resolvida com muita rapidez, que é a União Africana construir uma agenda comum”.

A pesquisadora defende que a entrada da União Africana no G20 é um marco histórico que simboliza não apenas o reconhecimento de seu potencial econômico e demográfico, mas também sua ascensão como um ator influente na governança mundial. 

Em harmonia com os objetivos da presidência brasileira no G20, a União Africana terá a oportunidade de contribuir significativamente para a construção de uma ordem econômica global mais equitativa e representativa. “A correlação de forças dentro do G20 também se renova, temos hoje uma tendência a novos alinhamentos internacionais”, pontua a coordenadora do Cebrafrica.

“Estamos vendo uma nova balança de poder se configurando com a entrada da União Africana, que terá um peso que pode redefinir uma agenda importante que diz respeito a temas que são caros aos chamados países em desenvolvimento ou do Sul Global”, avalia.

Em sinergia de agendas e prioridades, o sherpa da União Africana, Albert Muchanga, considera que a experiência africana no combate à desigualdade, à fome e à pobreza pode contribuir para fortalecer a proposta brasileira de criação da Aliança Global contra a Fome e Pobreza. 

“Apoiamos completamente as prioridades apresentadas pela presidência brasileira porque têm relevância direta para o continente africano. Nós precisamos embarcar na reforma das instituições políticas e financeiras globais. Todas as pautas são muito importantes e a África vai apoiar”, disse.

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