TRILHA DE FINANÇAS

“Não há ganhadores na atual crise da globalização”, diz Haddad

Na abertura da 1ª Reunião de Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais do G20 Brasil, ministro da Fazenda brasileiro defendeu globalização inclusiva e sustentável. “A presidência brasileira assumiu o desafio de fazer um G20 inclusivo, em que tenhamos a chance de avançar em diversos temas que nos são caros, como o combate à pobreza e à desigualdade, o financiamento ao desenvolvimento sustentável, a reforma da governança global, a tributação justa e o problema do endividamento crônico de vários países”, resumiu Haddad.

28/02/2024 15:31 - Modificado há 3 meses
Ministro da Fazenda do Brasil Fernando Haddad durante a abertura do fórum de ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20. Crédito: Kelly Fersan/Ministério da Fazenda
Ministro da Fazenda do Brasil Fernando Haddad durante a abertura do fórum de ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20. Crédito: Kelly Fersan/Ministério da Fazenda

O ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, falou aos ministros das maiores economias do mundo na solenidade de abertura do encontro do G20, que acontece nos dias 28 e 29 de fevereiro, no prédio da Bienal, em São Paulo. Em seu discurso, Haddad afirmou que os países mais pobres estão arcando com custos ambientais e econômicos crescentes, ao mesmo tempo que veem suas economias ameaçadas por uma crescente onda protecionista por parte dos países ricos.

O ministro alertou ainda que uma parcela significativa das receitas dos países mais pobres está seriamente comprometida pelo serviço da dívida, em um cenário de juros elevados pós-pandemia. “A presidência brasileira assumiu o desafio de fazer um G20 inclusivo, em que tenhamos a chance de avançar em diversos temas que nos são caros, como o combate à pobreza e à desigualdade, o financiamento efetivo ao desenvolvimento sustentável, a reforma da governança global, a tributação justa, a cooperação global para transformação ecológica e o problema do endividamento crônico de vários países”, resumiu Haddad.

“Chegamos a uma situação insustentável, em que os 1% mais ricos detêm 43% dos ativos financeiros mundiais e emitem a mesma quantidade de carbono que os dois terços mais pobres da humanidade”, alertou Haddad.

O legado da última onda de globalização foi marcado pela busca de aumento da rentabilidade através da arbitragem trabalhista e regulatória em nível internacional. Ainda que milhões de pessoas tenham saído da pobreza, houve substancial aumento das desigualdades de renda e riqueza em diversos países. “Chegamos a uma situação insustentável, em que os 1% mais ricos detêm 43% dos ativos financeiros mundiais e emitem a mesma quantidade de carbono que os dois terços mais pobres da humanidade”, alertou Haddad.

Em relação à economia global, o ministro defendeu que a reação à atual situação pode ser atribuída ao tipo específico de globalização que prevaleceu até a crise financeira de 2008. A integração econômica global se confundiu com a liberalização de mercados, a flexibilização das leis trabalhistas, a desregulamentação financeira e a livre circulação de capitais. Um complexo sistema offshore foi estruturado para oferecer formas cada vez mais elaboradas de evasão tributária aos super-ricos, que culminou na crise financeira de 2008.

Haddad explicou também as propostas das forças-tarefa apresentadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o G20 em 2024: a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global Contra a Mudança do Clima. “Vamos começar com um debate sobre estratégias para integrar a análise de desigualdades como uma preocupação fundamental de políticas macroeconômicas. Acreditamos que a desigualdade não deve ser apenas tratada como uma preocupação social, um mero corolário da política econômica”, concluiu. 

Os temas que a presidência brasileira propôs para a primeira reunião de ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais têm o objetivo de construir uma nova globalização, centrada na cooperação internacional para a solução dos desafios sociais e ambientais.

Papel das políticas econômicas no combate às desigualdades

O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, também participou da cerimônia de abertura e defendeu a importância das políticas econômicas no enfrentamento das desigualdades sociais e ressaltou a importância de políticas macroeconômicas sólidas no suporte ao crescimento econômico de longo prazo e na redução das disparidades sociais.

Campos Neto abordou o impacto negativo da inflação nos níveis de pobreza, enfatizando que ela afeta de maneira desproporcional os mais vulneráveis, aprofundando desigualdades sociais já existentes. Ele afirmou que, sob a presidência brasileira do G20, a inclusão financeira será uma peça central para promover o desenvolvimento e reduzir as desigualdades.

Balanço da reunião de vice-ministros e deputies

Em briefing para a imprensa, a coordenadora da Trilha de Finanças do G20 e secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, embaixadora Tatiana Rosito, fez um balanço do encontro dos vice-ministros de Finanças e vice-presidentes de Bancos Centrais, realizado nos dias 26 e 27/02. Na reunião, os representantes dos países do G20 e convidados concluíram o comunicado de orientação para os debates sobre a conjuntura financeira internacional para o fórum dos ministros. 

A embaixadora reforçou que as prioridades brasileiras para a presidência do grupo estão refletidas no documento e pontuou que os trabalhos da Trilha de Finanças do G20 têm o objetivo de garantir maior impacto e a implementação de compromissos concretos pelos países.

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