MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Racismo Ambiental e Justiça Climática: Um olhar sobre a favela da Maré

O site G20 Brasil inicia, com reportagem da comunicadora popular Kaya Bee, moradora da favela da Maré, no Rio de Janeiro, parceria com a Agência Dijo para produção de conteúdos, diretamente do território, sobre temas e questões debatidas e discutidas no fórum das maiores economias do mundo. A ideia é apresentar olhares de populações vulnerabilizadas historicamente para sejam considerados na construção dos acordos finais entre os países. Na matéria, a comunicadora aborda como os impactos das mudanças climáticas atingem de forma diferenciada moradores de favelas e defende que ações para mitigação e adaptação às mudanças climáticas devem levar em consideração estas desigualdades.

13/05/2024 07:00 - Modificado há 2 meses
Favela da Maré. Crédito Affonso Dalua

O racismo ambiental é um conceito que mescla elementos de discriminação racial e ambiental, descrevendo situações em que grupos étnicos minoritários são desproporcionalmente impactados por efeitos ambientais negativos, como poluição, degradação ambiental e acesso desigual a recursos naturais e serviços ambientais. 

Além disso, a luta por justiça climática é um princípio que busca abordar as desigualdades sociais, econômicas e políticas relacionadas às mudanças climáticas. Ela defende que as ações para mitigação e adaptação às mudanças climáticas devem ser equitativas, levando em consideração as necessidades e os impactos diferenciados que as comunidades enfrentam com base em fatores como renda, localização geográfica, raça, etnia e gênero.  

O território da Maré destaca-se como o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro e o 9º bairro mais populoso da cidade, com uma população superior à de 96% dos municípios brasileiros, totalizando cerca de 139.073 habitantes distribuídos em 38.273 domicílios, conforme o Censo Populacional da Maré de 2013 realizado pela ONG Redes da Maré.

Dentro desse contingente, destacam-se aproximadamente 10.200 crianças com menos de 5 anos e 6.500 idosos com mais de 65 anos, grupos especialmente vulneráveis aos eventos climáticos, representando, juntos, 12% da população total .  

Transição energética e mudanças climáticas, são dois temas que estão em debate na cúpula do G20, reunião anual dos líderes das maiores economias do mundo para discutir questões econômicas, financeiras e globais. Este ano, o Rio de Janeiro é o anfitrião da cúpula final do G20, um momento emocionante que destaca a capacidade da cidade em receber líderes globais e participar de discussões cruciais sobre economia e desenvolvimento. 

A presidência brasileira do G20 este ano trouxe a oportunidade de ampliar o acesso da sociedade civil, incluindo jovens periféricos, aos debates e reflexões sobre os temas discutidos nos grupos de trabalho e nos grupos de engajamento, com olhar especial para a pauta de meio ambiente e clima. 

Biodigestor construído por alunos de escola pública da favela da Maré, dentro do projeto Lutes Favelas. Crédito: Eduardo Bispo
Biodigestor construído por alunos de escola pública da favela da Maré, dentro do projeto Lutes Favelas. Crédito: Eduardo Bispo

Tecnologias periféricas

Neste contexto, a DIJO (Agência independente de Comunicação e Jornalismo Ambiental), sediada na favela da Maré, destaca as soluções que a comunidade encontra para superar esses desafios, como a iniciativa do projeto Lutes Favelas, formado por estudantes das escolas públicas do território em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. O projeto construiu um biodigestor no Colégio Estadual João Borges, que não apenas produz fertilizantes para auxiliar na recomposição do solo, mas também transforma o gás metano gerado pela decomposição de resíduos sólidos e orgânicos em gás de cozinha para o refeitório da escola. 

Durante uma entrevista com alunos e colaboradores envolvidos na construção do biodigestor, Inahra Cabral, coordenadora do projeto, explicou que essa iniciativa surgiu da necessidade urgente dos professores em tornar o ambiente escolar mais agradável para os alunos, evitando a evasão escolar devido ao ambiente externo do colégio, que anteriormente abrigava um "chiqueiro" de porcos. Ela contou que “antes, aqui atrás, era um criadouro de porcos. O cheiro era insuportável por causa das fezes dos animais."

Outra iniciativa, ligada ao Núcleo Direitos Urbanos e Socioambientais da ONG Redes da Maré,  o projeto EcoClima, promove ações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e facilitar a adaptação da comunidade durante desafios climáticos, tais como telhados verdes e composteiras coletivas no território.  

Podemos citar ainda o Observatório Internacional da Juventude, em colaboração com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e outras organizações, que tem como objetivo capacitar jovens das áreas periféricas por meio do projeto Jovens Negociadores pelo Clima, que atua nas áreas de interesse do grupo de engajamento Youth20 (Y20). Esses jovens são vistos como futuros líderes de suas nações e do mundo, influenciando debates e contribuindo para a formulação de políticas públicas.

Porcos comem lixo em pontos sem coleta de lixo na favela da Maré. Crédito Eduardo Bispo
Porcos comem lixo em pontos sem coleta de lixo na favela da Maré. Crédito Eduardo Bispo

A moradora da comunidade, Vania Silva, refletiu sobre como era a Maré antigamente, há 50 anos atrás: "mesmo as casas sendo de palafitas, tínhamos um ambiente mais arborizado. Agora só temos prédios e estamos cercados pelas três vias mais importantes da cidade (Linha Amarela, Linha Vermelha e Avenida Brasil), o que contribui para os problemas de saúde dos moradores, como problemas respiratórios".

Essencialmente, o propósito deste artigo é destacar as tecnologias periféricas que buscam adaptar as áreas complexas das favelas, revelando os desafios enfrentados pela população mais marginalizada em relação às vulnerabilidades climáticas e incentivando a participação efetiva da sociedade nesse contexto.

Créditos

Realização: Produtora DIJO 

Direção Criativa: Eduardo Bispo

Roteiro: Karolina Mendes 

Fonte de pesquisa: ONG Redes da Maré

Participações: Projeto Lutes Favelas, Inahara Cabral e Vania Silva 

Créditos fotográficos: Affonso Dalua e Eduardo Bispo

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