EMPODERAMENTO DAS MULHERES

“Queremos construir consensos no G20”, diz ministra das Mulheres do Brasil

Em entrevista, ministra das Mulheres do Brasil fala sobre prioridades do Brasil para debates de gênero no G20 e da necessidade dos países avançarem em políticas de igualdade

15/01/2024 08:00 - Modificado há um mês
Foto: Audiovisual/G20 Brasil
Foto: Audiovisual/G20 Brasil

Às vésperas da primeira e inédita reunião do Grupo de Trabalho de Empoderamento das Mulheres do G20, criado em 2023 sob a presidência indiana, a ministra das Mulheres do Brasil, Cida Gonçalves, aponta - em entrevista exclusiva para o site do G20 Brasil - grandes desafios que ainda existem no mundo quando o assunto é igualdade de gênero. 

Com uma história de militância em movimentos populares e especialista em questões de gênero, notadamente violência contra as mulheres, Cida aponta a luta pela igualdade como um dos eixos prioritários de atuação da presidência brasileira no recém-criado GT. Ela cita como exemplo a Lei da Igualdade Salarial, promulgada em 2023 no Brasil pelo presidente Lula. “A lei é um marco civilizatório e não pode ser considerada como uma questão da mulher somente. É um problema da sociedade como um todo, uma questão econômica”, diz. 

O relatório Mulheres, Empresas e o Direito 2023, do Banco Mundial, corrobora a afirmação da ministra. Em todo o mundo, a eliminação da desigualdade de gênero no mercado de trabalho poderia aumentar o PIB per capita em quase 20%, em média, entre os países. Em termos globais, cerca de 2,4 bilhões de mulheres em idade produtiva não têm os mesmos direitos que os homens, aponta o relatório que mostra ainda que nações com leis que garantem igualdade de direitos têm economias desenvolvidas e possuem alta qualidade de vida. 

A ministra falou ainda sobre outras prioridades do Grupo de Trabalho durante as discussões do G20, a importância da construção de consensos, economia do cuidado e a importância da perspectiva de gênero no debate sobre justiça climática e aquecimento global.

GT Empoderamento das Mulheres: prioridades da presidência brasileira

Nós temos três pautas prioritárias e uma delas é a questão da igualdade, que passa por salários iguais para homens e mulheres e pela política do cuidado. Como os países estão trabalhando para garantir que a mulher tenha menos horas de trabalho? 

A segunda pauta é o enfrentamento da misoginia, que é o ódio contra as mulheres, passando pela questão da discriminação, do preconceito e do enfrentamento a todas as formas de violência, inclusive o feminicídio. E o terceiro ponto é a justiça climática. As mulheres são as que mais sofrem com qualquer desastre natural, embora sejam elas que mais preservam o meio ambiente.

Construção de consensos no G20

Eu espero que a gente consiga uma grande coisa, que é a construção de consensos. Neste processo do G20, nós vamos estar com diversos países discutindo a questão de gênero e sabemos que existem diferenças e polêmicas, mas também muitas coisas que nos unem. Então nós esperamos chegar em novembro com recomendações específicas, consensuadas por todos os países em torno destas três prioridades, com um diagnóstico mundial e perspectiva de planejamento e continuidade do debate político sobre o lugar da mulher no mundo.

Justiça climática para as mulheres

Temos trabalhado a justiça climática do ponto econômico, do desenvolvimento, da sustentabilidade… Mas nós precisamos perceber que a sustentabilidade do desenvolvimento tem gênero. São as mulheres que, quando os barracos caem, quando a chuva vem, são as que mais sofrem com seus filhos, as pessoas mais vulneráveis. 

Por outro lado, são elas que estão ali plantando árvores, plantando a horta, trabalhando na perspectiva do desenvolvimento sustentável e da preservação da natureza. É um desafio, mas precisamos incluir esta perspectiva nos debates do G20.

"Mas nós precisamos perceber que a sustentabilidade do desenvolvimento tem gênero. São as mulheres que, quando os barracos caem, quando a chuva vem, são as que mais sofrem com seus filhos, as pessoas mais vulneráveis."

Lei da Igualdade Salarial

Esta lei é um divisor de águas, como foi a Lei Maria da Penha. Existiu um Brasil antes e outro depois da Lei Maria da Penha. A lei da Igualdade Salarial é isso, um marco civilizatório que não pode ser considerado como uma questão da mulher somente. É um problema da sociedade como um todo, uma questão econômica. O PIB melhora, a economia melhora, as empresas melhoram sua qualidade de trabalho, existe um impacto positivo nos profissionais…

O desafio é fazer a implementação da lei em um país desse tamanho, com essa territorialidade. Nós já pactuamos com várias empresas, com várias indústrias e é um processo de construção que precisa ser feito. Esta discussão vai ser um desafio no G20, que ao mesmo tempo vai ser um fórum muito importante e estratégico para isso. A lei dialoga com a questão da autonomia e da igualdade e precisamos percorrer esse caminho. Eu acredito que nós teremos um Brasil antes da Lei de Igualdade Salarial, e outro Brasil depois da implantação da lei.

Economia do cuidado: mulheres cuidam da casa, dos filhos e  idosos da família, em trabalho geralmente não remunerado. Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real
Economia do cuidado: mulheres cuidam da casa, dos filhos e idosos da família, em trabalho geralmente não remunerado. Foto: Juliana Pesqueira/Amazônia Real

Economia do cuidado

Não é possível que, na maioria dos países, as mulheres ganhem menos que os homens pelo mesmo trabalho e ainda tenham que cuidar da casa, dos filhos, dos idosos da família… Este é um debate que nós queremos ter com as empresas, com a sociedade, com os nossos homens. Nós precisamos trazê-los para o debate, porque se as mulheres vão para a vida pública, os homens podem vir para a vida privada. E é tudo de bom que isso possa acontecer. Este é o caminho para a construção de uma sociedade civilizatória, humana e justa.

Outras notícias

TRILHA DE SHERPAS

Empoderamento de Mulheres

30 de novembro de 2023
O Grupo de Trabalho Empoderamento de Mulheres foi criado durante a presidência da Índia, em 2023, e se reúne pela primeira vez sob a presidência do Brasil em 2024. O GT tem como propósito apoiar os países a abordarem a desigualdade de gênero e impulsionar o empoderamento das mulheres em suas diferentes dimensões. 
Leia maissobreEmpoderamento de Mulheres