LÍNGUAS INDÍGENAS

Presidente Lula recebe e-book do G20 no idioma indígena guarani

A tradução dá visibilidade mundial ao idioma indígena guarani, língua falada atualmente por mais de 26 mil pessoas e parte do tronco linguístico Tupi. O guarani é uma das mais de cem línguas indígenas do país. E-book trata de temas do G20 que dialogam diretamente com as populações indígenas, como mudanças climáticas, aquecimento global, bioeconomia e finanças verdes.

18/04/2024 19:00 - Modificado há 9 dias
Presidente Luís Inácio Lula da Silva recebe e-book do G20 Brasil em guarani ao lado de Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas do Brasil, e Eliel Benites, que traduziu o informativo | Foto: Audiovisual G20 Brasil
Presidente Luís Inácio Lula da Silva recebe e-book do G20 Brasil em guarani ao lado de Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas do Brasil, e Eliel Benites, que traduziu o informativo | Foto: Audiovisual G20 Brasil

O presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu, nesta quinta (18), um exemplar do e-book Brasil na presidência do G20 - Entenda o que é o G20 e quais as responsabilidades do Brasil durante solenidade de posse dos conselheiros indigenistas, em Brasília. 

Para a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ter um livro tratando de política internacional e sobre a presidência brasileira do G20 em um um idioma indígena, o guarani, é valorizar a Década das Línguas Indígenas. " É assim que a gente começa, mostrando que existe uma diversidade de línguas faladas, que precisa fortalecer as narrativas e vozes que, às vezes, são invisibilizadas para que o Brasil conheça a sua realidade, sua origem e os povos indígenas", disse a ministra.

O e-book recebeu a primeira tradução para uma língua indígena – o guarani. O responsável pelo trabalho de tradução é Eliel Benites, indígena da etnia Guarani-Kaiowá, doutor em Geografia e professor da Universidade Federal da Grande Dourados em Mato Grosso do Sul e diretor do Departamento de Línguas e Memórias Indígenas do Brasil do Ministério dos Povos Indígenas (MPI). 

Ele afirma que tornar a língua guarani visível no Brasil e no mundo, bem como fortalecer a importância de mantê-la viva, foi a motivação para o trabalho. Ele elenca ainda a importância de levar conteúdos que impactam a vida do povo Guarani-Kaiowá como economia, crises climáticas e meio ambiente no idioma nativo de sua comunidade. 

O professor espera que as demandas dos povos originários possam ser debatidas no fórum e ressalta a importância das pautas do G20 serem compreendidas dentro do contexto indígena. “Os povos indígenas podem contribuir no debate entre os países e, a partir disso,  as políticas públicas podem ser cada vez mais assertivas, levando em consideração as áreas sociais, a população mais carente e a questão territorial”, afirmou.

As línguas indígenas fazem parte do patrimônio nacional e estão sendo ameaçadas de extinção. Em 50 anos, cerca de 20 línguas podem desaparecer no Brasil, de acordo com especialistas. Diante da situação crítica de iminente perda da imensa riqueza de possibilidades de expressão de povos e sociedades, foi instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas a Década Internacional das Línguas Indígenas (DILI) para o decênio 2022-2032. 

Uma das prioridades da presidência brasileira do G20 é debater e fomentar o  desenvolvimento sustentável do planeta, com inclusão social e respeito à diversidade. Povos indígenas e originários têm sido, historicamente, guardiões da natureza, das florestas, rios, oceanos e biomas. 

“As línguas indígenas são o grande código e repositório do conhecimento sobre a Amazônia, o Pantanal, a Mata Atlântica, o Cerrado, a Caatinga e o Pampa. São línguas ancestrais justamente porque resultam da longa e profunda convivência humana em ambientes específicos, produzindo saberes altamente especializados”, afirma, em artigo exclusivo para o site G20 Brasil, a  professora da Universidade de Brasília Altaci Corrêa, que também é coordenadora-Geral de Articulação de Políticas Educacionais Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI).

“Nas línguas indígenas estão presentes inventários das espécies, sistemas de classificação, narrativas etiológicas e principalmente, formas de manejo da diversidade, tecnologia fundamental para a preservação e biorestauração do meio ambiente. A perda linguística implica em perda de conhecimento decisivo ao enfrentamento da crise climática e ambiental contemporânea”, finalizou.

No coração da América do Sul

A língua guarani faz parte do tronco linguístico Tupi e é falada por vários subgrupos de povos Guarani. O idioma é um dos mais falados no Brasil, de acordo com dados do IBGE, são mais de 26 mil falantes. O guarani é uma das línguas oficiais do Mercosul, sendo que uma variante do idioma é falada no Paraguai por não indígenas.

O professor Eliel explica que o povo Guarani habita o coração da América do Sul. As aldeias estão espalhadas desde o estado do Mato Grosso do Sul até a Argentina, e também na Bolívia e no Paraguai. Na época da colonização portuguesa, os Guarani ocupavam a região litorânea de São Paulo até o Rio Grande do Sul, espalhando-se pelas bacias dos rios Paraná, Uruguai e Paraguai.

O livro digital traduzido para o guarani, tem versões também em português, espanhol e inglês e possui 17 páginas com conteúdos básicos sobre o G20, tais como histórico, como funciona, países membros e convidados, as prioridades da presidência brasileira e quais são os grupos de trabalho que compõem o fórum.

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