AGRICULTURA

G20 além das salas de reunião: GT de Agricultura visita agricultores familiares

Iniciativa apresentou aos delegados do G20, na prática, o ciclo das políticas públicas brasileiras voltadas à agricultura familiar, tema inédito nas discussões oficiais do Grupo de Trabalho de Agricultura do G20. Delegações de países dos membros, além de países e organizações convidadas, se dividiram entre três diferentes roteiros, todos próximos à Capital Federal. Visitas aconteceram a um assentamento, a uma cooperativa e a armazéns públicos, exemplificando as etapas de impacto das políticas brasileiras para a agricultura familiar: produzir, manufaturar e distribuir, com resultados na geração de emprego e renda, combate à fome e à insegurança alimentar e manejo sustentável dos recursos naturais.

07/05/2024 08:36 - Modificado há 6 dias
Parte da delegação acompanhou o Ministro do MDA, Paulo Teixeira, em visita ao Assentamento Chapadinha, localizado em Sobradinho,  região administrativa do Distrito Federal brasileiro. Foto: Albino Oliveira/MDA
Parte da delegação acompanhou o Ministro do MDA, Paulo Teixeira, em visita ao Assentamento Chapadinha, localizado em Sobradinho, região administrativa do Distrito Federal brasileiro. Foto: Albino Oliveira/MDA

Autoridades internacionais ao ar livre, debatendo e vivenciando temas relacionados ao G20 em armazéns de abastecimento, entre a colheita de hortaliças, manejo do solo e preparação de laticínios. Com certeza essa não é uma imagem óbvia quando se tratam de encontros do G20, mas foi essa a proposta do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil (MDA) para a segunda reunião do Grupo de Trabalho (GT) de Agricultura, que ocorreu em Brasília/DF.

São 608 milhões de estabelecimentos no mundo, dos quais aproximadamente 550 milhões são familiares e respondem por 80% dos alimentos consumidos mundialmente. Destes, 510 milhões são de até dois hectares, respondendo por 36% dos alimentos. Este dado, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), dá a dimensão dos debates sobre agricultura familiar, que este ano foram incorporados de forma inédita ao G20, na agenda do GT de Agricultura.

E exatamente com objetivo de destacar o papel dos agricultores familiares no enfrentamento da fome, da pobreza, e das mudanças climáticas - temas centrais da presidência brasileira no grupo das maiores economias do mundo, é que o MDA resolveu extrapolar as quatro paredes da reunião técnica do grupo de trabalho e levar os delegados para na terra vermelha do bioma Cerrado, fora do prédio sede do G20. 

Cerca de 608 milhões de fazendas familiares em todo o mundo, com áreas menores que dois hectares, são responsáveis por mais de um terço da produção global de alimentos. Este dado, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), dá a dimensão dos debates sobre agricultura familiar, que este ano foram incorporados de forma inédita ao G20, na agenda do GT de Agricultura.

Conversar com os agricultores, visualizar os processos agrícolas e conhecer os produtos: experiências que 50 delegações dos membros do G20, além de países e organizações internacionais convidados, puderam viver em visitas a campo realizadas no final de abril. Os delegados puderam escolher entre três diferentes roteiros e conceber, na prática, os impactos das políticas públicas brasileiras para o setor. As visitas se dividiram entre os armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a Cooperativa Indaiá e o Assentamento Chapadinha. Tanto a cooperativa quanto o assentamento se localizam em áreas próximas da Capital Federal.

Cooperativa Indaiá

As autoridades puderam conhecer o ciclo de produção dos laticínios. Foto: Audiovisual/G20
As autoridades puderam conhecer o ciclo de produção dos laticínios. Foto: Audiovisual/G20

Fundada em 2013, a Coopindaiá é especializada na comercialização de leite e produtos lácteos. Durante a visita, guiada por Luciano Andrade, cooperado desde a fundação e atual diretor-presidente da organização, representantes dos países-membros e convidados puderam esclarecer dúvidas sobre rotina de produção, comercialização e relação com os agricultores, além, claro, de degustar queijos, iogurtes e demais produtos. A cooperativa trabalha com média de 100 mil litros de leite diários, provenientes de cerca de 700 diferentes produtores da região. 

“Eu acho que o mais importante é realmente ver como as coisas estão acontecendo, na prática, nos diferentes países do G20. Ver e tocar, sentir e cheirar os produtos, dá, de fato, uma perspectiva de como as coisas funcionam e de como podemos trocar aprendizados”, colocou Caroline Wardrop, do Departamento de Agricultura, Pesca e Silvicultura do governo da Austrália, que também destacou o impacto do cooperativismo nas comunidades.

“Há alguns anos os países já trabalham com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pelas Nações Unidas (ONU) e muitos deles estão relacionadas à agricultura, no sentido da produção sustentável, da renda, da proteção ambiental, então é muito interessante essa iniciativa”, complementou Bart Vrolijk, do Ministério de Agricultura, Natureza e Qualidade de Alimentos do governo da Holanda, ao concordar com o destaque aos debates sobre agricultura familiar no G20.

Assentamento Chapadinha

A produção do assentamento é baseada nos princípios da agroecologia. Foto: Albino Oliveira/MDA
A produção do assentamento é baseada nos princípios da agroecologia. Foto: Albino Oliveira/MDA

No assentamento, os representantes internacionais, juntamente ao ministro do MDA, Paulo Teixeira, puderam conhecer o trabalho de 46 famílias que produzem uma variedade de frutas, leguminosas e hortaliças orgânicas em uma área de 435 hectares. A Associação dos Trabalhadores e Agricultores Familiares de Chapadinha (ASTRAF) trabalha em uma jornada de restauração da terra, priorizando práticas agroecológicas casadas a processos organizacionais sociais e econômicos.

“A agricultura familiar é provedora de alimentos para mesa do povo do mundo inteiro e pela primeira vez o G20 está contemplando essa política. Por isso que nós estamos aqui, em um assentamento, mostrando o cardápio de políticas públicas de acesso à terra, ao crédito, às compras públicas, à energia solar fotovoltaica, à irrigação, à assistência técnica, enfim, um cardápio que demonstra como fortalecer a produção de alimentos”, destacou Paulo Teixeira na oportunidade.

Companhia Nacional de Abastecimento

Visitaram a companhia comitivas da África do Sul, Arábia Saudita, Canadá, Coreia do Sul, França, Reino Unido e Noruega. Foto: Ascom/Conab
Visitaram a companhia comitivas da África do Sul, Arábia Saudita, Canadá, Coreia do Sul, França, Reino Unido e Noruega. Foto: Ascom/Conab

As autoridades puderam conhecer a sede da Conab, estatal brasileira com presença em todas as regiões do Brasil, com 26 superintendências estaduais e 64 unidades armazenadoras que garantem o abastecimento de alimentos do país. Os encargos da companhia abrangem fornecer inteligência agrícola, contribuir para a formulação e execução de políticas públicas e apoiar a geração de renda dos produtores rurais. 

“Podemos apresentar aqui várias políticas que a Conab desenvolve para pequenos, médios e grandes produtores, que vão desde a compra institucional de produtos até o controle da inflação dos alimentos através dos estoques públicos. Além de apresentar o que projetamos para o futuro, que é aumentar a nossa capacidade a fim de auxiliar os agricultores”, indicou Edegar Pretto, presidente da Companhia Nacional.

A importância de políticas públicas para agricultura familiar no mundo

Qual a relação entre os três roteiros, e a conexão com os debates globais do GT de Agricultura? O papel dos Estados na formulação e implementação de políticas públicas aos pequenos agricultores. As visitas ao assentamento, à cooperativa e aos armazéns públicos, nesta ordem, exemplificam as etapas de impacto das políticas brasileiras para a agricultura familiar: produzir, manufaturar e distribuir, com resultados na geração de emprego e renda, combate à fome e à insegurança alimentar e manejo sustentável dos recursos naturais. 

Políticas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Ecolar (PNAE) foram apresentadas às delegações estrangeiras, e bem recebidas pelas representações como exemplos possíveis aos seus países. A exemplo, o PAA é o principal programa operacionalizado pela Conab na direção da erradicação da fome. Tanto o Assentamento Chapadinha quanto a Coopindaía participam do programa.

O PAA, em 2014, foi um dos principais instrumentos que ajudaram a tirar o Brasil do Mapa da Fome. Desde a sua criação, foram adquiridas cerca de 5,5 milhões de toneladas de alimentos da agricultura familiar, chegando a restaurantes comunitários, creches, entidades filantrópicas e instituições de ensino em todo Brasil.

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