BID-20

Focado em desenvolvimento inclusivo: o que é o BID e como funcionam os bancos multilaterais?

Criado em 1959 e inspirado pelo ex-presidente JK, o BID é a principal fonte de financiamento e conhecimento para o desenvolvimento da América Latina e do Caribe.

26/02/2024 08:00 - Modificado há 3 meses

Cerca de oito mil quilômetros separam Belo Horizonte de Washington, mas na sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na capital americana, existe um busto em homenagem a um dos mineiros mais importantes da História: Juscelino Kubitschek.  

Criado em 1959 e inspirado pelo ex-presidente JK, o BID é a principal fonte de financiamento e conhecimento para o desenvolvimento da América Latina e do Caribe. Atualmente liderado por Ilan Goldfajn, primeiro brasileiro a frente da instituição, o BID atua dos projetos sociais ao empreendedorismo, da integração regional à Internet móvel, da infraestrutura à energia renovável. 

O BID assumiu a liderança do grupo de chefes dos bancos multilaterais (MDBs, por sua sigla em inglês) e regionais (RDBs, por sua sigla em inglês) de desenvolvimento, que reúne doze instituições internacionais financeiras. O fato coincide com a presidência brasileira do G20 e oferece a oportunidade de alinhar políticas de desenvolvimento dos bancos multilaterais, uma das prioridades de seu mandato.

Como funciona o BID? 

Hoje o banco é formado por 48 países: 26 membros mutuários na América Latina e Caribe (ou seja, que fizeram um aporte inicial para o capital do banco e podem receber financiamentos) e 22 membros não mutuários (que participam da capitalização, mas não recebem financiamento) da América do Norte, Europa e Ásia. Sua gestão é profissional, com eleições para a diretoria, na qual todos os países membros – doadores ou mutuários – tem direito a voto. O BID detém, desde 1962, a classificação de crédito triplo A, a mais alta possível, repassando os benefícios aos países mutuários.

O BID faz parte de uma estrutura maior, o Grupo BID. Neste também participam o BID Invest, focado em financiamento a empresas privadas na América Latina e no Caribe, e o BID Lab, centro de inovação que incentiva a soluções criativas e o empreendedorismo na região. O Grupo BID não apenas oferece financiamento aos países, é conhecido como um banco de conhecimento e apoio técnico. Equipes especializadas avaliam e supervisionam cada projeto para garantir os resultados sociais, ambientais e econômicos planejados.

Vínculo profundo e histórico com o Brasil 

Obras de ampliação do metrô em São Paulo. | Brasil/Divulgação BID
Obras de ampliação do metrô em São Paulo. | Brasil/Divulgação BID

O Brasil tem sido um dos maiores parceiros mutuários do BID ao longo dos anos. O Banco já financiou mais de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões) no país. Os projetos de investimento abrangem vários setores. Entre os exemplos se encontram o apoio para a implementação do Bolsa Família, o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim, que já beneficiou mais de 75 mil pessoas com melhorias urbanas), recursos para o Instituto Butantan ampliar a fabricação de vacinas, a duplicação da BR-101 no Sul do Brasil e a construção do Metrô em São Paulo, apoio a programas de urbanização de assentamentos precários e redução das vulnerabilidades aos riscos climáticos como o ProMorar Recife, o Produis Niterói ou o João Pessoa Sustentável, cooperativas de reciclagem em Minas Gerais, o financiamento de saneamento e da despoluição da baía de Guanabara, no Rio. Recentemente, por exemplo, apoia o projeto de cobertura cambial para incentivar o financiamento climático. 

Na região, o BID financia desde obras de infraestrutura no México a projetos de biodiversidade no Caribe, de modernização de fronteiras e incentivo ao comércio regional na América Central até melhores moradias e saneamento em vários países na América do Sul. Recentemente, o banco ainda realizou uma conversão de dívida por serviços climáticos com o Equador, de US$ 1,1 bilhão que permitirá ampliar a conservação de Galápagos, e outra que visa proteger o ecossistema marítimo em Barbados. Em 2023, lançou o programa Amazonia Sempre, e está apoiando a integração regional de rotas na América do Sul. 

BID assumiu a liderança grupo dos bancos multilaterais 

Transição energética: BID financia energia eólica na Jamaica. | Divulgação BID
Transição energética: BID financia energia eólica na Jamaica. | Divulgação BID

O BID assumiu a liderança do grupo de chefes dos bancos multilaterais (MDBs, por sua sigla em inglês) e regionais (RDBs, por sua sigla em inglês) de desenvolvimento, que reúne doze instituições internacionais financeiras. O fato coincide com a presidência brasileira do G20 e oferece a oportunidade de alinhar políticas de desenvolvimento dos bancos multilaterais, uma das prioridades de seu mandato.

Na sua liderança do grupo dos MDBs e RDBs, e com a meta de tornar os bancos multilaterais de desenvolvimento “maiores e melhores", o BID pretende evoluir não apenas em seus projetos, mas também nos métodos operacionais e na forma de colaboração, para atender às necessidades urgentes dos países membros mutuários e de suas populações. O Banco buscar focalizar em sustentabilidade, crescimento econômico e erradicação da pobreza, temas prioritários para o governo brasileiro durante a presidência do G20.   

“Os bancos multilaterais precisam se reformar para serem mais ágeis em seu apoio aos países, dado o tamanho, a complexidade e a urgência dos desafios que enfrentamos hoje, como o câmbio climático, a insegurança alimentar e a desigualdade e a pobreza”, afirmou Ilan Goldfajn. “Por isso, o nosso enfoque está no impacto. Com projetos regionais como o 'Amazônia Sempre', o que importa não é o valor financeiro das nossas operações, mas sim se levaram a resultados concretos, como prevenção de desmatamento, criação de empregos para a população local e desenvolvimento da bioeconomia”.

O que fazem os MDBs?   

Projetos de modernização da educação no Peru.| Divulgação BID
Projetos de modernização da educação no Peru.| Divulgação BID

Os bancos multilaterais de desenvolvimento foram criados no pós-Segunda Guerra Mundial como instrumento para a reconstrução de áreas devastadas, e depois expandiram sua atuação a projetos que geram desenvolvimento social de qualidade, respeito ao meio ambiente e preparando países, regiões e cidades para melhorar suas condições econômicas, gestão e a qualidade dos serviços públicos. Eles oferecem empréstimos e, ocasionalmente, recursos não reembolsáveis. Outros recursos incluem cooperação técnica e conhecimento para a elaboração de projetos, programas e políticas públicas.   

Os MDBs e RDBs aprovam conjuntamente cerca de US$ 230 bilhões por ano (aproximadamente R$ 1,1 trilhão) segundo levantamento da OCDE*. Muitas vezes os bancos multilaterais de desenvolvimento atuam em áreas onde outros bancos não atuam e com condições únicas de custo, buscando uma agenda que gera impactos positivos. Somente o BID tem, no Brasil, uma carteira de crédito ativa de US$ 9,6 bilhões, e mais US$ 2,7 bilhões no pipeline.   

Além do BID, integram os MDBs e os RDBs: Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB), Asia Development Bank (ADB), Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), Banco Desenvolvimento do Conselho da Europa (CEB), Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (EBRD), Banco Europeu de Investimento (EIB), Banco Islâmico de Desenvolvimento (IsDB) e o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, conhecido como Banco dos Brics). Outras instituições financeiras multilaterais que trabalham com os MDBs e os RDBs são o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Corporação Financeira Internacional (conhecida pela sigla em inglês IFC).   

 *Fonte: https://www.oecd.org/development/multilateral-development-finance-2022-9fea4cf2-en.htm