Desinformação ameaça vidas em emergência humanitária no Sul do Brasil, alertam especialistas
Propagação de informações fraudulentas pode minar esforços de socorro e evacuação no estado brasileiro que sofre com inundações, colocando em risco a segurança e a dignidade das vítimas. Promoção da integridade da informação faz parte das prioridades da presidência brasileira do G20, no âmbito do Grupo de Trabalho de Economia Digital.
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Milhares de pessoas estão em risco de morte, vítimas das inundações devastadoras que atingiram o estado brasileiro do Rio Grande do Sul. O mundo acompanha estarrecido cenas de cidades inteiras alagadas e relatos de pessoas que perderam tudo, sem qualquer perspectiva que a situação melhore em curto prazo. Somado aos efeitos dos eventos climáticos extremos, a propagação de conteúdos desinformativos agudiza a situação de vulnerabilidade das pessoas ao promover pânico e apostar no caos como narrativa essencial.
Os esforços dos governos e da sociedade civil para responder à crise, informar as pessoas sobre socorro e ajuda aos desabrigados, indicar abrigo, divulgar alertas meteorológicos e informações sobre novas inundações, bem como medidas para prevenir a ocorrência de vítimas fatais são esvaziados por informações fraudulentas, publicadas em sites ou redes sociais. Os conteúdos desinformativos tentam minar a credibilidade das instituições, impedindo a evacuação de áreas de risco e o resgate de pessoas em um momento crítico e de incertezas.
Joelle Rizk, assessora do Departamento de Proteção do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, tem se dedicado aos impactos da desinformação para populações em contextos de conflitos e emergências humanitárias, como no caso do Sul brasileiro. De acordo com Rizk, os riscos digitais impactam as pessoas com base nas situações em que se encontram e nas vulnerabilidades que possuem e “não acontecem no vácuo”.
“Eles não estão isolados do contexto em que as pessoas se encontram. Na verdade, acrescenta uma camada adicional de complexidade e vulnerabilidade às pessoas, além daquilo que já vivenciam. Quanto mais vulneráveis e impactadas as pessoas já estiverem em contextos humanitários, mais vulneráveis e ameaçadas estão pelo risco digital”, analisou a especialista.
“Eles não estão isolados do contexto em que as pessoas se encontram. Na verdade, acrescenta uma camada adicional de complexidade e vulnerabilidade às pessoas, além daquilo que já vivenciam. Quanto mais vulneráveis e impactadas as pessoas já estiverem em contextos humanitários, mais vulneráveis e ameaçadas estão pelo risco digital”, analisou a especialista.
Neste sentido, Joelle destaca que as pessoas utilizam tanto as redes sociais como notícias online para se informar em tempos de paz, conflitos ou emergência humanitárias e, por isso, é fundamental que nesses espaços as pessoas tenham acesso a conteúdos confiáveis, pois impactam na consciência que elas têm sobre a situação que enfrentam para tomar decisões. “Com base em que eles tomam essas decisões? Em informações que sejam confiáveis e precisas. Também é importante que eles saibam onde obter os serviços”, defendeu.
Medidas governamentais
Com informações acessíveis, o governo brasileiro mantém o site Brasil Contra a Fake, que tem como objetivo combater a disseminação de informações incorretas e garantir que o cidadão acesse dados confiáveis e precisos.
Durante a emergência humanitária no Rio Grande do Sul, o governo brasileiro colocou o combate à desinformação como ação de comunicação prioritária para que as pessoas atingidas pelas inundações e riscos correlatos possam ter informações claras para enfrentar os desafios com e dignidade.
“Muitos perderam entes queridos, casas, animais, tudo o que eles tinham. Em meio a esse cenário devastador, as pessoas estão fragilizadas e suscetíveis a falsas informações. Imagine que uma desinformação nesse contexto pode ser ainda mais devastadora, desestruturando emocionalmente aqueles que já enfrentam perdas significativas. Estamos falando de humanidade, de respeito e de colocar-se no lugar do outro”, ressaltou George Marques, coordenador da campanha Brasil Contra Fake na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil (Secom/PR).
Além disso, a Secom/PR do Brasil solicitou aos órgãos nacionais de justiça a abertura de investigação sobre propagação de informações fraudulentas nas redes sociais com potencial de prejudicar as operações de ajuda às vítimas da tragédia climática e provocar pânico generalizado, "tanto para a apuração dos ilícitos ou eventuais crimes relacionados à disseminação de desinformação e individualização de condutas quanto para reforçar a credibilidade e capacidade operacional das nossas instituições em momentos de crise”, diz documento.
Medidas para promover a integridade da informação fazem parte das prioridades da presidência brasileira do G20 e são discutidas no grupo de trabalho de Economia Digital.