MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Desinformação ameaça vidas em emergência humanitária no Sul do Brasil, alertam especialistas

Propagação de informações fraudulentas pode minar esforços de socorro e evacuação no estado brasileiro que sofre com inundações, colocando em risco a segurança e a dignidade das vítimas. Promoção da integridade da informação faz parte das prioridades da presidência brasileira do G20, no âmbito do Grupo de Trabalho de Economia Digital.

08/05/2024 18:30 - Modificado há 3 meses
Desinformação pode aprofundar situação de vulnerabilidade das vítimas da emergência climática no Rio Grande do Sul

Milhares de pessoas estão em risco de morte, vítimas das inundações devastadoras que atingiram o estado brasileiro do Rio Grande do Sul. O mundo acompanha estarrecido cenas de cidades inteiras alagadas e relatos de pessoas que perderam tudo, sem qualquer perspectiva que a situação melhore em curto prazo. Somado aos efeitos dos eventos climáticos extremos, a propagação de conteúdos desinformativos agudiza a situação de vulnerabilidade das pessoas ao promover pânico e apostar no caos como narrativa essencial. 

Os esforços dos governos e da sociedade civil para responder à crise, informar as pessoas sobre socorro e ajuda aos desabrigados, indicar abrigo, divulgar alertas meteorológicos e informações sobre novas inundações, bem como medidas para prevenir a ocorrência de vítimas fatais são esvaziados por informações fraudulentas, publicadas em sites ou redes sociais. Os conteúdos desinformativos tentam minar a credibilidade das instituições, impedindo a evacuação de áreas de risco e o resgate de pessoas em um momento crítico e de incertezas.  

Joelle Rizk, assessora do Departamento de Proteção do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, tem se dedicado aos impactos da desinformação para populações em contextos de conflitos e emergências humanitárias, como no caso do Sul brasileiro. De acordo com Rizk, os riscos digitais impactam as pessoas com base nas situações em que se encontram e nas vulnerabilidades que possuem e “não acontecem no vácuo”. 

“Eles não estão isolados do contexto em que as pessoas se encontram. Na verdade, acrescenta uma camada adicional de complexidade e vulnerabilidade às pessoas, além daquilo que já vivenciam. Quanto mais vulneráveis ​​e impactadas as pessoas já estiverem em contextos humanitários, mais vulneráveis e ameaçadas estão pelo risco digital”, analisou a especialista. 

“Eles não estão isolados do contexto em que as pessoas se encontram. Na verdade, acrescenta uma camada adicional de complexidade e vulnerabilidade às pessoas, além daquilo que já vivenciam. Quanto mais vulneráveis ​​e impactadas as pessoas já estiverem em contextos humanitários, mais vulneráveis e ameaçadas estão pelo risco digital”, analisou a especialista.

Neste sentido, Joelle destaca que as pessoas utilizam tanto as redes sociais como notícias online para se informar em tempos de paz, conflitos ou emergência humanitárias e, por isso, é fundamental que nesses espaços as pessoas tenham acesso a conteúdos confiáveis, pois impactam na consciência que elas têm sobre a situação que enfrentam para tomar decisões. “Com base em que eles tomam essas decisões? Em informações que sejam confiáveis e precisas. Também é importante que eles saibam onde obter os serviços”, defendeu. 

Medidas governamentais

Com informações acessíveis, o governo brasileiro mantém o site Brasil Contra a Fake, que tem como objetivo combater a disseminação de informações incorretas e garantir que o cidadão acesse dados confiáveis e precisos. 

Durante a emergência humanitária no Rio Grande do Sul, o governo brasileiro colocou o combate à desinformação como ação de comunicação prioritária para que as pessoas atingidas pelas inundações e riscos correlatos possam ter informações claras para enfrentar os desafios com e dignidade. 

“Muitos perderam entes queridos, casas, animais, tudo o que eles tinham. Em meio a esse cenário devastador, as pessoas estão fragilizadas e suscetíveis a falsas informações. Imagine que uma desinformação nesse contexto pode ser ainda mais devastadora, desestruturando emocionalmente aqueles que já enfrentam perdas significativas. Estamos falando de humanidade, de respeito e de colocar-se no lugar do outro”, ressaltou George Marques, coordenador da campanha Brasil Contra Fake na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil (Secom/PR). 

Além disso, a Secom/PR do Brasil solicitou aos órgãos nacionais de justiça a abertura de investigação sobre propagação de informações fraudulentas nas redes sociais com potencial de prejudicar as operações de ajuda às vítimas da tragédia climática e provocar pânico generalizado, "tanto para a apuração dos ilícitos ou eventuais crimes relacionados à disseminação de desinformação e individualização de condutas quanto para reforçar a credibilidade e capacidade operacional das nossas instituições em momentos de crise”, diz documento.

Medidas para promover a integridade da informação fazem parte das prioridades da presidência brasileira do G20 e são discutidas no grupo de trabalho de Economia Digital.

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