Boletim G20 Ed. 74 - Filme brasileiro aborda história da América Latina sob olhar do Sul Global

Após ser premiado em festivais, “Utopia Tropical” estreia no Brasil com Noam Chomsky e Celso Amorim apresentando a história das ditaduras e ascensão do neoliberalismo no Continente. Ouça e saiba mais!

Repórter: O documentário "Utopia Tropical" se destaca pela profundidade dos temas e pela abordagem curiosa de uma conversa entre o sociólogo norte-americano Noam Chomsky e o embaixador brasileiro Celso Amorim. Ao longo do filme os dois conversam e analisam como golpes militares derrubaram sistematicamente governos de esquerda na América nos anos 70, e mostram como o neoliberalismo se impôs na região.

O diretor João Amorim conversou com a jornalista do G20, Luciana Bento. Ele revelou que a ideia surgiu após um encontro entre seu pai e Chomsky. Segundo ele, o encontro resultou em uma produção desafiadora marcada por limitações, especialmente devido à idade avançada de Chomsky. A animação e as imagens de arquivo conferem leveza ao filme, enquanto a recepção positiva em festivais indica o interesse do público por temas políticos complexos. Vamos acompanhar alguns trechos da entrevista com o diretor do documentário.

João Amorim fala da ideia do roteiro: E através da esposa dele, que é brasileira, foi proporcionado esse encontro entre os dois. E ele, sabendo do meu gosto pelo trabalho do Noam, ele me mandou uma foto. Isso deve ter sido mais ou menos em 2017. Foi essa foto que instigou a ideia do documentário. Quando eu vi essa foto, eu falei, cara, a gente tem que fazer um filme. 

João Amorim fala da construção do diálogo: Eu tinha essa ideia de fazer algo sobre a ascensão e queda dos governos de esquerda, a influência da mídia. Então a gente tentou direcionar essa conversa. E esse material serviu para montar um teaser e para desenvolver o projeto. Eu gravei toda aquela entrevista que é só o Noam, eu gravei sozinho, sem nenhuma equipe. No dia seguinte, a gente gravou uma entrevista só com meu pai e uma conversa entre os dois, que foi feita de forma remota. Então eu acho que acabou sendo um diálogo bem interessante entre os dois.

Repórter: A presença do embaixador Celso Amorim adiciona um olhar brasileiro ao diálogo, enriquecendo ainda mais a narrativa. O diretor encara o desafio com orgulho, considerando-o um aprendizado único e ressaltando a relevância do trabalho de seu pai. Em meio às dificuldades enfrentadas durante a produção, Amorim enfatiza sua determinação em realizar um filme que capturasse a essência da conversa entre dois renomados intelectuais, oferecendo uma perspectiva única sobre a história política da América Latina e seus desafios contemporâneos. Vamos ouvir mais um trecho da entrevista com João Amorim, diretor do documentário "Utopia Tropical".

João Amorim fala de temas políticos e ousadia de recursos de animação: É curto, que apontasse os problemas, mas que também desse um tom de esperança, porque acho que não adianta nada falar que já era, tudo acabou, o neoliberalismo vai destruir o planeta, vamos pro barco, porque não tem o que fazer. Então a gente busca ter essa atitude positiva, mostrar que existem frestas, como o próprio Celso disse, para a transformação da sociedade. E eu acho também que ele serve como um registro histórico. A animação, eu fui animador, eu uso isso na linguagem documental, e também ajuda a sintetizar ideias. Então, às vezes você tem umas ideias muito complexas, tipo a origem do neoliberalismo, ou como o FMI trabalhou para controlar as economias latino-americanas, e às vezes é uma coisa muito difícil, até para mim. Então eu acho que ele vai ser um filme válido não só agora, mas daqui a 10 ou 20 anos. 

Repórter: Você pode ler entrevista completa com João Amorim, diretor do documentário "Utopia Tropical", no site g20.org.