Boletim G20 Ed. 67 - Pesquisa inédita identifica desinformação, misoginia e fraudes contra mulheres em plataformas digitais
Levantamento feito pelo Ministério das Mulheres e NetLab/UFRJ aponta anúncios que promovem golpes e reforçam estereótipos contra mulheres. O enfrentamento à misoginia é uma das prioridades do Grupo de Trabalho Empoderamento de Mulheres, do G20. Ouça e saiba!
Repórter: O Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), identificou 1.565 anúncios publicitários dirigidos às mulheres, considerados problemáticos, irregulares ou fraudulentos. O estudo identificou 550 páginas e perfis responsáveis por publicar anúncios categorizados como tóxicos, apontando o tipo de ameaça que representavam às mulheres, principal público-alvo dos conteúdos produzidos.
Do total de anúncios analisados, 1.253 tratam de temas relacionados ao corpo da mulher. Anúncios enganam, por exemplo, quando fazem referência à suposta aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para conferir legitimidade aos produtos. Muitos usam recursos como a imagem da agência para criar narrativas falsas e aplicar golpes. Para o NetLab, isso indica um esforço proposital para circular conteúdo falso, sem descartar a hipótese de aplicação de golpes financeiros. Ouça o que diz Marie Santini, diretora do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais.
Marie Santini: O que esse estudo mostra é a proliferação e aumento de conteúdos misóginos e de ataques às mulheres. Nós estamos falando do advento de uma misoginia patrocinada, no qual anunciantes segmentam mulheres com campanhas pagas, usando todas as técnicas da publicidade e de segmentação do público. É extremamente importante que a gente colete evidências que possam embasar ações e políticas públicas, especialmente do Ministério das Mulheres e pelo governo federal.
Repórter: Os dados foram coletados das redes sociais Facebook, Instagram, Messenger e Audience Net. São os primeiros resultados da pesquisa inédita Observatório da indústria da desinformação e violência de gênero nas plataformas digitais, que tem o financiamento e apoio do Ministério da Mulheres, no âmbito da iniciativa Brasil Sem Misoginia, que é o ódio e a discriminação praticados contra mulheres.
Na categorização específica do tipo de ameaça que o anúncio representa, a mais recorrente foi a de “risco à saúde pública ou individual”, que aparece em 78,6% dos anúncios analisados. Ela foi seguida por “desinformação ou publicidade abusiva ou enganosa”, presente em 66% dos conteúdos; e o “reforço de estereótipos de gênero, machismo e mulher como objeto” foi de 44,3%.
O enfrentamento à misoginia é uma das pautas estratégicas propostas pelo Grupo de Trabalho Empoderamento de Mulheres do G20, coordenado pelo Ministério das Mulheres e cujos trabalhos tiveram início sob a atual presidência do Brasil.