Um em cada 5 jovens no mundo não trabalha nem estuda: secretário-geral da OIJ fala sobre o futuro do mercado de trabalho para esta população
O Organismo Internacional de Juventude (OIJ) para Iberoamérica é o único organismo internacional público orientado especificamente para as juventudes. Max Trejo, secretário-geral da entidade, participou da Cúpula do Youth 20 e tratou sobre a questão da empregabilidade de jovens no cenário internacional, em um cenário de avanços das tecnologias e da transição verde.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em relatório divulgado no último ano, revelou que um a cada cinco jovens no mundo, mais exatamente 20,4% da juventude, nem trabalha, nem estuda. No Brasil, a condição não é menos preocupante que a do cenário mundial. A média de desemprego entre jovens é, em geral, o dobro da média integral. Quais caminhos possíveis para superar essas estatísticas, e como pode o G20 cooperar no encontro de soluções?
Durante a semana de atividades intensas da Cúpula do Y20, o G20 Brasil teve a oportunidade de conversar com Max Trejo, secretário-geral do Organismo Internacional de Juventude (OIJ) para Iberoamérica, único organismo internacional público orientado especificamente para as juventudes. Na ocasião, o diplomata mexicano abordou a questão da empregabilidade de jovens e demais temas inerentes a agenda daqueles que são, em um mesmo espaço-tempo, o presente e o futuro das nações. “Metade da população é jovem e os jovens não são importantes pelo número que representam, mas pelas ideias disruptivas, pela força transformadora, pela capacidade que têm”, colocou ele.
Sobre os obstáculos enfrentados pela juventude para inserção no mercado de trabalho, o secretário-geral expôs que essa não é uma problemática recente, mas sim de matriz histórica, imposta por diferentes fatores sociais, educacionais e de mercado, mas que, de fato, intensificou-se durante a pandemia de Covid-19 e no pós que vivemos agora. Porém, Trejo indica o que pode ser um ponto de virada. “Sou um otimista de que os jovens possam enfrentar estes desafios e chegar a soluções, mas os governos têm de fornecer uma melhor orientação na formação e na transição, fortalecer-nos nas competências que o mundo do trabalho demanda. Em suma, uma fotografia do mundo atual é de que, por um lado, vemos que os jovens duplicam ou triplicam os níveis de desemprego em comparação com adultos e, por outro lado, vemos empresas e atores que não encontram pessoas com as condições ou competências necessárias, aqui há uma lacuna que podemos fechar”, disse o diplomata.
“Por exemplo, a digitalização: se avançarmos em uma direção que os jovens não apenas consumam tecnologia, mas produzam tecnologia, em que tenhamos, além de aptidões digitais, competências digitais. Assim vamos capacitar a juventude para uma empregabilidade muito mais imediata. Estou otimista de que no mundo do trabalho, devido à transformação dos empregos e das circunstâncias, os jovens podem ser vencedores, mas temos de ser criativos, não temos de recorrer a esquemas tradicionais”, complementou.
O relatório “Futuro do Empregos”, publicado no último ano pelo Fórum Econômico Mundial, dá conta exatamente do que o secretário-geral do OIJ apresentou. De acordo com a publicação, até 2027, cerca de 23% dos empregos vão mudar, e a transição verde e novas tecnologias serão os principais motores destas mudanças. “Os empregos de crescimento mais rápido são os de especialistas em inteligência artificial e aprendizado de máquina, especialistas em sustentabilidade, analistas de inteligência de negócios e especialistas em segurança da informação”, destaca o texto. Um caminho às juventudes que pretendem se inserir no novo mercado de trabalho e também às que ainda não decidiram os rumos de seus estudos técnicos e/ou universitários.
A OIJ hoje lidera a Nova Agenda de Juventude, um esforço coletivo junto ao Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A agenda trabalha os temas de inclusão, meio ambiente e governança, em diálogo direto com os eixos prioritários ao G20 Brasil.
Ibero-América no G20
A Ibero-América compreende os países da América Latina onde o português ou espanhol são as línguas predominantes, em regra territórios colonizados pelos então impérios Espanhol e Português. A Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) tem entre seus países-membros e observadores também países do continente africano em que o português é a língua oficial, além dos europeus Espanha e Portugal. No G20, 20% dos países (Angola, Argentina, Brasil, Espanha, México e Portugal) compõem a OEI.
Além da participação do OIJ na Cúpula de juventudes das maiores economias do mundo, a própria OEI vem participando de diversos momentos de reunião do fórum. Também no último mês, no escopo das agendas do Grupo de Trabalho de Cultura, aconteceu a primeira reunião de vice-ministros de Cultura ibero-americanos para Economia Criativa, em que ficou deliberada a presidência brasileira nos próximos dois anos.
Países ibero-americanos pela empregabilidade juvenil: cooperação Brasil-Espanha
Em julho, o governo brasileiro recebeu representantes do Ministério do Trabalho e Economia Social da Espanha para compartilhar experiências exitosas dos países na pauta e aprimorarem ações neste rumo. Na atualidade, a Espanha é a nação europeia com um dos melhores resultados de empregabilidade entre jovens de 15 a 24 anos. Em 15 anos, a taxa de desemprego nesta faixa etária caiu de 52% para 21% no país. Entre diversos fatores, como a reforma trabalhista de 2021, o plano Garantia Juvenil (uma iniciativa europeia para inserção de jovens no mercado de trabalho) e a estratégia espanhola de apoio ao emprego colaboraram para esta marca. Na oportunidade, o Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil (MTE) destacou que o Brasil alcançou um recorde na contratação de jovens por meio da Lei da Aprendizagem, pela qual, neste ano, mais de 600 mil jovens aprendizes foram admitidos.