Sociedade civil internacional debate desigualdades junto à Trilha de Finanças do G20
Entidades não-governamentais, grupos de engajamento e sociedade civil apresentaram pontos de vista e propostas de combate às desigualdades em suas diferentes formas. Parte do G20 Social, encontro debateu pauta de economia global proposta pelo Ministério da Fazenda do Brasil.
Uma trabalhadora padrão, da área social ou de saúde, levaria 1.200 anos para ganhar o que um dirigente de uma grande empresa ganha em um ano. Se cinco das pessoas mais ricas do mundo decidissem gastar um milhão de dólares por dia, seriam necessários 476 anos para gastar todas as suas fortunas combinadas. São dados como esses que subsidiaram o 2º encontro do G20 Social vinculado à Trilha de Finanças, realizado de forma virtual na quinta-feira (07).
Com o tema “Economia Global e Desigualdades”, a reunião contou com representações de diversos países-membros e convidados do G20 e está disponível na íntegra no canal do YouTube do Ministério da Fazenda. Foram 26 os representantes da sociedade civil mundial com direito a espaço de intervenção de até 3 minutos, após inscrição em formulário prévio ao evento. Os participantes puderam expor preocupações e propostas de diversas entidades ao redor do mundo.
Dentre os participantes esteve Guilhermina Alaniz, representante do escritório da Aids Healthcare Foundation (AHF) para a América Latina e o Caribe, que tratou sobre as desigualdades na área da saúde. “Nossa proposta é pela igualdade, não simplesmente caridade. Queremos vacinas universais e que os países façam investimentos mais robustos nos sistemas de saúde, disse Guilhermina. “Nesse sentido, queremos um mecanismo que converta o pagamento de dívidas em investimentos alinhados com as estratégias de saúde públicas. Esse modelo é uma posição de ganha-ganha que permite aos países ricos apoiar países que estão em dívida, com possibilidade de melhorar programas de saúde para diversas doenças”, colocou.
Outra contribuição foi de Adrien Fabre, fundador da Global Redistribution Advocates. “O PIB dos países de alta renda é cem vezes maior que o PIB dos países de baixa ou média renda baixa. Assim, a distribuição de só 1% teria um impacto enorme. Nós apoiamos todas as políticas que redistribuem recursos do Norte Global ao Sul Global. Uma pesquisa mostra que 70% dos países no mundo estão dispostos a contribuir com 1% da sua renda para lutar contra a mudança climática. Defendemos um plano global para a temática, bem como defendemos a taxação dos bilionários para financiar estas iniciativas”, expôs Adrien.
Construção de diálogos com a sociedade civil
A mesa de abertura contou com a fala do subsecretário de Finanças Internacionais e Cooperação Econômica, Antonio Freitas; da subsecretária de Acompanhamento Macroeconômico e de Políticas Comerciais, Júlia Braga; e da responsável pela Relação da Trilha de Finanças com a Sociedade Civil, Tatiana Berringer.
“Existem proporções e disparidades chocantes que nos confrontam todos os dias. A luta contra a fome e a desigualdade está sendo colocada de maneira prioritária como nunca antes aconteceu no G20”, declarou Freitas.
A construção de oportunidades de diálogo com a sociedade civil brasileira e global é um dos objetivos dos encontros do G20 Social vinculados à Trilha de Finanças. “Pretendemos aumentar a base social do fórum, uma vez que a participação serve também como maneira de deixar pública algumas questões-chave”, afirmou Berringer.
Além da mesa de abertura, ocorreram duas sessões. Na sessão “Economia Global e Desigualdades”, falaram Laura Carvalho, economista chefe na Open Society Foundation; Amitabh Behar, diretor interino executivo da Oxfam Internacional; e Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional no Brasil.
Behar apresentou o relatório Inequality.Inc (Desigualdade S.A., em livre adaptação para o português). “Durante a crise de fome, clima, custo de vida e combustíveis, o que vemos é que os super ricos têm se beneficiado”, alertou. “Essa luta contra a desigualdade e a discussão sobre tributação no G20 é histórica. Espero que esse passo seja reconhecido e celebrado”, acrescentou.
Werneck chamou a atenção para a necessidade de um acordo para que todos os países participem da formulação de políticas internacionais de tributação. “Sem esse tratado, a evasão fiscal irá continuar a ter um efeito corrosivo nas sociedades, aumentando a pobreza e a desigualdade”, defendeu.
Já a mesa “G20 e o Combate à fome, à pobreza e às desigualdades” contou com as falas de Renato Godinho, que coordena a Força-tarefa da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza; Stephen Devereux, pesquisador no Instituto de Estudos de Desenvolvimento; e Adhemar RIbeiro, membro da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia.
A desigualdade e sua relação com a economia global estão no centro do debate proposto pelo Brasil durante sua presidência do G20, buscando maneiras de mitigar seus efeitos nas relações entre países e no âmbito doméstico destes. O próximo encontro do G20 Social vinculado à Trilha de Finanças será sobre “Transição Justa e a Nova Globalização” e está previsto para o final deste mês.