Seminário internacional do G20 alerta: “a Amazônia pede socorro”
Em Manaus, no estado do Amazonas, especialistas debatem, em evento paralelo do GT de Pesquisa e Inovação, a descarbonização, destacando inovações tecnológicas, políticas públicas e manejo sustentável para enfrentar o desmatamento e mitigar os impactos das mudanças do clima no mundo.
No coração da Amazônia, seminário internacional do G20 reúne especialistas de várias partes do mundo para discutir temas que envolvem a preservação da Floresta Amazônica e demais florestas tropicais do planeta. No primeiro dia do evento, o painel que tratou da descarbonização e mudança do clima, trouxe à tona discussões sobre a importância da implementação de políticas e tecnologias voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa, além de estratégias para adaptação e resiliência de ecossistemas e comunidades locais.
Especialistas destacaram inovações tecnológicas e modelos de desenvolvimento de baixo carbono como caminhos fundamentais para enfrentar os desafios climáticos, especialmente em regiões como a Amazônia. A coordenadora do painel, Amy Duchelle, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), enfatizou a urgência de discutir inovações sustentáveis. “A nova ciência mostra como os processos podem ajudar no resfriamento do planeta”, disse. Ela destacou que a ação é crucial tanto no Brasil quanto em outras regiões do mundo que enfrentam os impactos crescentes das mudanças climáticas, como ondas de calor e secas.
Osvaldo Moraes, Diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destacou a necessidade de avançar no conhecimento sobre como as mudanças climáticas impactam a biodiversidade e quais estratégias de adaptação podem ser desenvolvidas para diferentes espécies, além dos seres humanos. Ele destacou que, apesar dos avanços na ciência climática, ainda existem questões em aberto, como a adaptação de espécies ameaçadas. O diretor também apontou um desafio significativo: a comunicação eficaz do conhecimento científico. "O maior desafio não é explicar a ciência ao cidadão comum, que já está atento às questões ambientais, mas sim dialogar com gestores e tomadores de decisão que, por vezes, ignoram ou negam a ciência", afirmou Moraes.
“A Amazônia pede socorro. Mesmo que você não perceba, ela é extremamente importante para a vida de todos nós, independentemente de onde você esteja. Por isso, é urgente que o mundo ouça esse pedido de socorro", alertou.
Entre os painelistas, Keizo Hirai, diretor do Instituto de Pesquisa para Florestas e Produtos Florestais, apresentou dados alarmantes sobre a devastação e queimadas na Amazônia. Desde 2020, mais de 10 mil quilômetros quadrados foram desmatados e esta degradação tem impacto direto na absorção de carbono, essencial para mitigar o aquecimento global. Hirai apresentou estudos que demonstram o longo tempo de recuperação da biomassa em florestas devastadas: em algumas regiões, esse processo pode levar até 60 anos. Ele ressaltou a importância de práticas que protejam o solo e preservem o carbono armazenado, algo particularmente crítico em áreas indígenas, que têm sido modelo de manejo sustentável. “Na Amazônia, as chuvas intensas afetam o solo desprotegido, liberando carbono que contribui para as mudanças climáticas. O desmatamento provocado pelas lavouras agrava a situação, dificultando a retenção de carbono no solo”, explicou.
Jesús San-Miguel-Ayanz, especialista em incêndios florestais da Europa, chamou atenção para a crescente ameaça dos incêndios ao redor do mundo, exacerbada pelas mudanças climáticas. Ele sublinhou que a combinação de secas mais frequentes e o fator humano são os principais responsáveis pelo aumento de incêndios em regiões como América Latina e Caribe. “A solução passa pela cooperação internacional e pelo uso de sistemas de monitoramento avançados para mitigar os riscos e implementar políticas preventivas”, avaliou.
Descarbonização e o futuro da Amazônia
Outro ponto de destaque veio do pesquisador Carlos Alberto Quesada, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que apresentou o projeto Amazon Face, um experimento de larga escala que simula o aumento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera para estudar como a Floresta Amazônica responde às mudanças climáticas. O CO2 é um gás incolor e inodoro, mais conhecido como gás carbônico. É o principal gás de efeito estufa.
Quesada destacou que 60% da Amazônia tem solo pobre em nutrientes, o que dificulta a resiliência da floresta, mas que estudos dessa natureza podem fornecer respostas tanto para a mitigação quanto para o desenvolvimento de novas práticas agrícolas e de gestão sustentável. O pesquisador defende a redução do uso de combustíveis fósseis para combater as mudanças climáticas. Ele acrescenta que ações como a agricultura de baixo carbono e o combate ao desmatamento são fundamentais para a recuperação do planeta. “A Amazônia pede socorro. Mesmo que você não perceba, ela é extremamente importante para a vida de todos nós, independentemente de onde você esteja. Por isso, é urgente que o mundo ouça esse pedido de socorro", alertou.
Quesada ainda destaca que os debates mostram que a Amazônia está perdendo sua capacidade de absorver carbono, que segundo ele representa um sinal alarmante da crise climática. “Neste contexto, o G20 é apontado como peça-chave para liderar as políticas globais de combate às mudanças do clima, visto que as nações mais ricas são as maiores responsáveis pelas emissões. No entanto, essas políticas devem incluir também os mais vulneráveis, que sofrem mais com os impactos climáticos, apesar de contribuírem menos para o problema”, salientou.
O pesquisador ainda enfatizou a necessidade de alinhar a ciência com as políticas públicas, garantindo que o conhecimento gerado na Amazônia seja utilizado para criar soluções práticas e eficazes, tanto para a preservação da floresta quanto para a mitigação das mudanças do clima.
Por fim, Richard Betts, do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), alertou para as consequências catastróficas de um aumento da temperatura global além dos 1,5°C estabelecidos pelo Acordo de Paris. Betts destacou que o desmatamento contribui significativamente para o agravamento das mudanças do clima, alertando que o aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, se tornarão ainda mais severos se as emissões de carbono não forem controladas.
O debate, dentro da agenda do Grupo de Trabalho de Pesquisa e Inovação do G20, reforça a necessidade de uma ação coordenada entre governos, cientistas e comunidades para enfrentar os desafios globais da descarbonização e preservação ambiental. O ponto central entre os debatedores é que o futuro do planeta depende da adoção de práticas inovadoras e da cooperação internacional para proteger os ecossistemas.
O seminário internacional foi organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).