“Luz de esperança”: Comissária da União Europeia fala sobre a urgência de combater as desigualdades
A comissária da União Europeia para Parcerias Internacionais, a finlandesa Jutta Urpilainen, discute os compromissos do Bloco com as propostas de desenvolvimento sustentável e o apoio à iniciativa do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para erradicar a fome e a pobreza globalmente.
Em entrevista exclusiva ao G20 Brasil, a comissária da União Europeia, Jutta Urpilainen, compartilhou suas perspectivas sobre o papel da União Europeia no combate às desigualdades globais e o apoio às iniciativas da presidência brasileira do G20, como a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que ela considera uma "luz de esperança" em um mundo impactado pelas crises recentes.
Com uma trajetória marcada pela defesa da justiça social e da educação, a comissária, que é finlandesa, destaca a importância da parceria internacional para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2030 das Nações Unidas. Urpilainen reforçou o compromisso da União Europeia em investir na educação como ferramenta transformadora e na segurança alimentar como pilar essencial para o desenvolvimento autônomo dos países do Sul Global.
Um dos objetivos da presidência brasileira do G20 é construir parcerias para reduzir a pobreza global e apoiar o desenvolvimento sustentável. Como a União Europeia está trabalhando nessa direção e quais os principais compromissos assumidos dentro do G20 para os próximos anos?
Primeiramente, quero parabenizar a presidência brasileira do G20 por colocar o combate às desigualdades no centro de sua agenda global. Acho que isso é muito bom e uma maneira de chamar a atenção da política para esse tema, que é extremamente importante e muito caro para mim. No que diz respeito à União Europeia, combater as desigualdades, erradicar a pobreza e a fome está no cerne das nossas parcerias internacionais. Estamos muito comprometidos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. Na cooperação para o desenvolvimento e parcerias internacionais, apoiamos nossos parceiros no Sul Global, incluindo o Brasil e a América Latina, para erradicar a pobreza, por exemplo, através da educação.
Fui professora e acredito que investir em educação é a ferramenta mais transformadora para mudar sociedades, capacitar pessoas e também combater as desigualdades. Por exemplo, a União Europeia aumentou seu financiamento para a educação de 7% para 13%. Então, 13% do nosso financiamento externo vai para a educação, esse é um ótimo exemplo do nosso compromisso em erradicar a pobreza.
Como a União Europeia vê a proposta da presidência brasileira e o apoio dos membros para construir uma Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza?
Acho que é uma iniciativa muito interessante e vamos apoiá-la. Definitivamente precisamos de mais compromisso político para combater a pobreza e a fome.
Infelizmente, por causa da Covid-19, vemos muitos impactos negativos nas sociedades de nossos países parceiros. Há mais pessoas sofrendo com a pobreza e com a fome. Essa nova iniciativa do presidente Lula está trazendo uma luz de esperança para o mundo, para que os líderes políticos se comprometam realmente a combater a pobreza e a fome.
Estamos investindo muito em nutrição e segurança alimentar em nossas parcerias internacionais. Entre 2022 e 2023, alocamos cerca de 13,5 bilhões de euros em segurança alimentar. Esse número inclui as contribuições da Comissão, mas também de nossos 27 Estados-membros. Nosso objetivo é realmente fortalecer a resiliência de nossos países parceiros.
Essa nova iniciativa do presidente Lula está trazendo uma luz de esperança para o mundo, para que os líderes políticos se comprometam realmente a combater a pobreza e a fome. Estamos investindo muito em nutrição e segurança alimentar em nossas parcerias internacionais. Entre 2022 e 2023, alocamos cerca de 13,5 bilhões de euros em segurança alimentar.
Queremos apoiar a autonomia alimentar para que países na África não dependam tanto da importação de alimentos, para que possam produzir alimentos na África para a África. Por isso, estamos muito focados na produção agrícola sustentável, bem como em sistemas agrícolas e cadeias de valor.
A União Africana a partir de agora é membro pleno do G20...
Apoiamos muito a adesão da União Africana ao G20. Estamos muito satisfeitos que a África agora esteja representada na mesa do G20. A maioria dos países menos desenvolvidos estão na África. É por isso que devemos prestar atenção especial a esse continente, como no caso de acelerar a produção de tecnologias. Adotamos uma estratégia de investimento Global Gateway há dois anos e meio. O objetivo é acelerar as transições verde e digital globalmente. Temos a meta de investir 300 bilhões de euros até 2027. Trabalhamos com o setor privado para acelerar os investimentos no Sul Global.
Estamos focando em clima e energia, transporte, desenvolvimento digital, educação e saúde. No que diz respeito, à produção de vacinas, a iniciativa Global Gateway apoia a produção e fabricação de vacinas na África e na América Latina.
Uma das lições aprendidas com a crise da Covid-19 foi que, por exemplo, a África ainda depende muito da importação de vacinas e medicamentos. Eles importam 99% das vacinas e 94% dos medicamentos que consomem. Se olharmos para a América Latina, os números são menores, mas ainda dependem muito da importação. Acho que é justo trazer tecnologia e apoiar nossos parceiros na África e na América Latina, para produzir e fabricar mais vacinas e medicamentos.
Como os países do Norte Global têm sido impactados pelas desigualdades sociais e conflitos regionais?
Vivemos em um mundo interligado. Acho que essa foi uma das grandes lições aprendidas com a Covid-19. Foi um pequeno vírus que realmente impactou o mundo inteiro. É por isso que é tão importante apoiar nossos parceiros no Sul Global em seu desenvolvimento sustentável.
Ao mesmo tempo, também temos que combater as desigualdades na Europa, porque não somos perfeitos. Também temos muitos desafios em termos de desigualdade de renda, de pobreza, em nossos Estados-membros. É por isso que é um objetivo comum, combater as desigualdades através da tributação, através de políticas econômicas, mas também através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que são a bússola para o mundo inteiro, para um futuro melhor, para que ninguém fique para trás.
Como tem avaliado a condução do G20 no Brasil?
A minha sincera opinião é que tem sido uma presidência muito bem-sucedida até agora. Acho que um exemplo disso é que conseguimos adotar declarações políticas na Reunião de Ministros de Desenvolvimento. Estou muito feliz, como Comissária, que uma das propostas tenha sido justamente sobre o combate às desigualdades. Estou muito satisfeita por poder participar da reunião ministerial aqui no Rio de Janeiro.