G20 em Foz do Iguaçu: Brasil pode ser a Árabia Saudita dos combustíveis sustentáveis para aviões
A reunião do GT de Transições Energéticas começou na terça-feira (1), em Foz do Iguaçu, e debateu sobre perspectivas inovadoras para combustíveis sustentáveis, principalmente para os setores de difícil redução de emissões como a aviação. Durante evento paralelo, especialistas e empresários se mostraram otimistas com o desenvolvimento do setor de Combustível de Aviação Sustentável (SAF) no Brasil.
Começou nesta terça-feira (1) o encontro do Grupo de Trabalho de Transições Energéticas em Foz do Iguaçu, no estado brasileiro do Paraná. O grupo iniciou o diálogo com o foco em perspectivas inovadoras para combustíveis sustentáveis. Mariana Espécie, coordenadora do GT de Transições Energéticas e assessora especial do Ministério de Minas e Energia (MME), destacou que as discussões com outros países se concentram em como iniciar o que é chamado de “segunda onda da transição energética”.
“Como podemos pensar em novos combustíveis que serão necessários para a transição energética, especialmente para setores de difícil redução de emissões, como transporte e indústria? É fundamental mudar várias perspectivas, como a redução das emissões de carbono nesses setores em função do consumo desses combustíveis”, disse Mariana.
A coordenadora do GT ainda acrescentou que a presidência brasileira do G20 faz uma abordagem inovadora da questão. “Pela primeira vez, estamos vendo esse tema emergir e o Brasil possui condições favoráveis para discuti-lo, especialmente pela perspectiva do mercado doméstico e por ter uma política de longo prazo voltada para os biocombustíveis”, destacou.
No âmbito dos combustíveis para transporte, o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente, chamou a atenção para a questão da padronização porque o padrão de um país não necessariamente serve para outro. A produção de um biocombustível, por exemplo, começa na agricultura que muda de país para país devido às diferenças de clima e solo de cada região. “Devido a questão comercial, se você quer assegurar que vai ter combustível sustentável para aviação, ele tem que ter um padrão para que cada vez que o avião vá a qualquer lugar do mundo ele bote um combustível que tenha o mesmo padrão de sustentabilidade. Porque se um país faz de um jeito e outro país faz de outra maneira você não está reduzindo as emissões”, afirmou.
O debate contou com a participação de diversos especialistas, pesquisadores e importantes representantes do mercado global de carbono, que têm acompanhado o desenvolvimento de novas commodities, como hidrogênio e o Combustível de Aviação Sustentável (SAF, na sigla em inglês), entre outras. A última rodada do diálogo de alto nível com o tema "Buscando consenso sobre avaliações e estruturas de sustentabilidade baseadas em desempenho" continua até sexta-feira (4), quando será realizada a reunião ministerial.
Debate sobre o Combustível de Aviação Sustentável (SAF)
Na parte da tarde, o evento “Aviação: Uma nova fronteira para combustíveis de baixo carbono no Brasil e na América do Sul” discutiu justamente sobre um setor de difícil descarbonização: a aviação. De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2022, as viagens de avião representaram 2% das emissões globais de gás de efeito estufa. Estima-se que a demanda por querosene de aviação continuará crescendo e, consequentemente, as emissões, mesmo com melhorias na eficiência das aeronaves. Por isso os combustíveis sustentáveis de aviação constituem uma das principais medidas para mitigar as emissões do setor.
A Itaipu Binacional inaugurou recentemente a primeira planta de demonstração de combustível de aviação sustentável e para o diretor-geral da empresa, Enio Verri, discutir SAF é fundamental porque o avião é um meio de transporte que está presente no mundo todo e a demanda por combustível é gigantesca. Ele acredita em uma transição possível principalmente a partir do biogás.”O biogás vai permitir um planeta menos poluído e você pode utilizar o lixo para converter em combustível a preços muito mais baixos”. Enio também ressaltou a importância do evento e que o Brasil está mostrando “que é possível preservar e garantir a vida do planeta no momento de crise como estamos vivendo sem comprometer o desenvolvimento. Isso é um debate importante que o G20 nos permite fazer”.
Segundo Erasmo Battistella, Ceo da empresa de biocombustíveis Be8, o Brasil pode vir a ser a Arábia Saudita do SAF no futuro. Durante sua fala no evento, Erasmo comentou sobre o projeto de SAF que a empresa tem no Paraguai e que os projetos no Brasil devem avançar com a sanção do projeto de lei Combustível do Futuro (PL 528/2020), que institui diretrizes para o desenvolvimento de combustíveis sustentáveis no país. O Brasil tem matéria prima e tecnologia desenvolvida e aplicada no mercado doméstico para avançar e atrair mais investimentos. A data da sanção do PL pelo presidente Lula está marcada para o dia 8 de outubro.
“O Brasil é hoje uma referência em biodiesel porque criou uma política pública lá na década de 70. E hoje somos 50% do mercado de aviação da América Latina e esperamos que nossas políticas públicas possam influenciar os demais países da América do Sul e o debate no G20”.