Favelas no centro do combate às desigualdades, à fome e à pobreza
De acordo com o Instituto Data Favela, as favelas brasileiras movimentam cerca de 202 bilhões de reais por ano, demonstrando seu potencial econômico e a força empreendedora e produtiva de seus moradores. Este é apenas um indício de como a inclusão das populações das favelas na construção de políticas públicas é essencial para combater a fome e a pobreza no Brasil.
A luta pela redução das desigualdades, pelo combate à fome e à pobreza é um desafio global que exige a participação ativa de todos os setores da sociedade, especialmente daqueles que são diretamente impactados por essas questões. A inclusão de vozes historicamente esquecidas na construção de políticas públicas e tecnologias sociais não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia essencial para a criação de soluções eficazes e sustentáveis.
Em 12 de julho de 2023, a ONU publicou um relatório para análise da alimentação e agricultura que confirma uma piora nos indicadores de fome dos brasileiros. Em 2022, segundo esse relatório, 70,3 milhões de pessoas estiveram em estado de insegurança alimentar moderada, e 21,1 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave, que caracteriza o estado de fome. Tais números são um reflexo das profundas desigualdades socioeconômicas que persistem no país e foram agravadas pela pandemia de Covid-19. A fome e a pobreza não são apenas números em uma estatística; são realidades vividas diariamente por milhões de brasileiros.
Essas pessoas, que sobrevivem muitas vezes em condições extremas, têm sido, paradoxalmente, excluídas dos processos de tomada de decisão que afetam diretamente suas vidas. Tal preocupação deve ser permanente ao discutir políticas públicas que envolvam a existência das pessoas nas favelas ou em outros espaços da nossa sociedade, seja nas grandes cidades ou no interior do país.
Potência econômica das favelas
Pesquisas mostram que economicamente a geração de negócios e dinheiro dentro dos espaços de favela é muito potente: se as favelas fossem um estado brasileiro elas seriam a sexta maior potência econômica do nosso país. Considerando seu protagonismo social, as lideranças e iniciativas da favela precisam contar com espaços estratégicos mais assertivos, possibilitando que as vozes da favela reverberem nos espaços de decisão, em políticas que efetivamente retirem essas pessoas de um lugar marginalizado e oportunizem um crescimento significativo nos processos de emancipação.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que a concentração de renda no Brasil é uma das mais altas do mundo, com os 10% mais ricos detendo mais de 40% da renda nacional. Essa disparidade revela a necessidade urgente de políticas públicas que promovam a redistribuição de riqueza e a inclusão social.
Segundo o Instituto Data Favela, as favelas brasileiras movimentam cerca de 202 bilhões de reais por ano, demonstrando seu potencial econômico e a força de seus moradores. No entanto, apesar desse poder econômico, as favelas enfrentam enormes dificuldades para acessar crédito, recursos e oportunidades que permitam melhorar suas condições de vida. Dados do Data Favela, revelam que cerca 45% dos empreendedores das favelas enfrentam dificuldades para acessar crédito, limitando suas possibilidades de expandir negócios e melhorar as condições de vida em seus territórios. Esse cenário reforça a necessidade de políticas públicas que não apenas reconheçam, mas também fortaleçam essas iniciativas locais, garantindo que as práticas sustentáveis nascidas nesses territórios possam se expandir e contribuir ainda mais para a sustentabilidade e a equidade social.
Além disso, é fundamental reconhecer e valorizar os saberes ancestrais das populações menos abastadas, que historicamente têm buscado alternativas para superar a fome e a insegurança alimentar através de práticas e tecnologias sociais. Hortas comunitárias, armazenamento de água, fontes de energia alternativas, fitoterapia, cosmética natural, melhoramento orgânico na produção agrícola familiar e agrofloresta são exemplos de práticas que, apesar de serem parte de nossa história ancestral, só recebem reconhecimento e são referenciadas como inovadoras após serem validadas pela academia. Pesquisas indicam que essas práticas, muitas vezes ignoradas, são fundamentais na identidade das favelas e têm um impacto direto na promoção da sustentabilidade e na redução das desigualdades.
A inserção das populações mais vulneráveis na construção de políticas públicas não deve ser vista apenas como uma concessão, mas como uma estratégia fundamental para o sucesso dessas políticas. A participação no G20 Social e no G20 Favelas é um passo importante para garantir que as soluções propostas sejam realmente eficazes e sustentáveis. No entanto, é necessário que essa participação se torne uma prática constante e não apenas uma exceção.
O reconhecimento do protagonismo das pessoas que vivem em favelas e espaços periféricos é fundamental para que as discussões sobre sustentabilidade avancem além da teoria e se tornem efetivas. É necessário que os setores econômicos e os governos dos países assumam suas responsabilidades, criando políticas públicas que integrem esses territórios nos processos decisórios e fornecendo suporte às iniciativas sustentáveis que já existem nesses territórios. Somente assim, será possível garantir que a sustentabilidade não seja apenas uma pauta de elites, mas uma realidade vivida e promovida por toda a sociedade, especialmente pelos que mais sofrem com as desigualdades sociais.
O G20 Favelas no G20 Social
O G20 Social, que acontecerá entre os dias 14 e 16 de novembro no Rio de Janeiro, surge como espaço crucial para o debate e a construção de estratégias que visam a redução das desigualdades sociais. Este evento, que se destaca pela inclusão disruptiva das populações que residem em favelas por meio do G20 Favelas, idealizado pela Central Única das Favelas (Cufa), representa um avanço significativo na luta pela inclusão desse território na agenda global.
E o G20 Favelas é uma iniciativa inovadora que busca dar voz aos moradores das favelas, quilombolas, comunidades indígenas e ribeirinhas, além de entidades do terceiro setor. Essas populações, que são as mais afetadas pelas questões de fome e pobreza, têm raramente a oportunidade de participar efetivamente na construção de políticas públicas e práticas que as incluam. Ao inseri-las no debate global, o G20 Favelas não apenas reconhece a importância dessas vozes, mas também promove uma nova perspectiva sobre como abordar os desafios sociais de maneira inclusiva e eficaz.