ECONOMIA DIGITAL

Desigualdade da infraestrutura para a Inteligência Artificial é discutida no G20

Painel do evento paralelo do G20 Brasil discutiu os desafios para desenvolver infraestrutura de maneira equilibrada nos países do G20 e do Sul Global. O encontro é uma iniciativa do GT de Economia Digital.

18/04/2024 11:27
Painel discute os desafios associados ao desenvolvimento de infraestruturas para a inteligência artificial. / Crédito: Divulgação G20
Painel discute os desafios associados ao desenvolvimento de infraestruturas para a inteligência artificial. / Crédito: Divulgação G20

Evento paralelo ao G20 Brasil abordou os desafios da distribuição desigual de ativos e infraestrutura de Inteligência Artificial (IA) e possíveis soluções para governos, setor privado e a sociedade civil, nesta quarta-feira, 17/4, em Brasília. O encontro faz parte dos Diálogos G20, promovido pelo Grupo de Trabalho de Economia Digital, e reuniu especialistas de todo o mundo para discutir a “Inteligência Artificial para Equidade Social e Desenvolvimento Sustentável”. 

Eliana Emediato, coordenadora-geral de Transformação Digital no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil (MCTI), explorou os desafios associados ao desenvolvimento de infraestruturas robustas de IA, acesso à Internet de alta velocidade, recursos computacionais e capacidades de armazenamento de dados. Emediato pontuou que o é garantir que todos os países do G20 possam participar e se beneficiar dos avanços da implantação de tecnologias de IA de modo igualitário e respeitando as limitações ambientais. 

Desenvolvimento da IA no Sul Global 

Fernanda Martins, diretora de pesquisa do InternetLab, considerou que a inteligência artificial representa um desafio para o desenvolvimento e sustentação das democracias e é importante fazer a discussão sobre governança da IA. “Quando enfrentamos esse momento histórico e o crescimento de muitos governos autoritários ao redor do mundo, discutir uma tecnologia com essa potência, neste momento, nos traz ainda mais necessidade de um olhar crítico e de responsabilidade social e parceria entre os países para uma IA com uso ético”, disse. 

Para Martins, o Sul Global representa a maioria da população mundial e seus dados são extraídos para o benefício de uma minoria que sempre se beneficiou dos avanços da tecnologia. A discussão sobre regulação precisa ser transversal e olhar na perspectiva de termos de raça, de gênero, de sexualidade, social, territorial e de identidade nacionais. Não é possível conceber o consentimento dos termos de uso sem levar em consideração as diferenças, que constituem o cenário global de desenvolvimento da IA.

“O atual momento traz esperança de muitos países, principalmente do Sul Global, afetados pelas mudanças climáticas e pela fome. Colocam na inteligência artificial, em seu desenvolvimento a esperança de que se possa ir adiante na construção de uma nova ética para pensar a tecnologia.  Estabelecer as infraestruturas que fortaleça as democracias nos países que tem sido chamado de maioria global”, defendeu a pesquisadora.

Tarcízio Silva, membro Sênior de Política Tecnológica da Mozilla, falou dos impactos ambientais para a construção da infraestrutura de AI, como a mineração e a dependência dos países do Sul Global das grandes empresas de tecnologia. Silva salientou que o G20 é um espaço ideal para ampliar o debate sobre os avanços tecnológicos e racionalizar o uso e distribuição da infraestrutura, principalmente o compartilhamento. 

“O caráter normativo, a produção das provas sobre os impactos, sejam negativos, sejam positivos, sobre inteligência artificial. O debate legislativo nas políticas de fomento e observar o que realmente precisamos. É impossível comportar tudo para todos. Não queremos nem a barbárie e nem o colapso climático”, explicou o pesquisador.

Desigualdades na infraestrutura para IA

Tatiane Nogueira, pesquisadora em aprendizado de máquina e professora da Universidade Federal da Bahia, explicou que existem dois tipos IA, a que queremos e a que necessitamos. “A que queremos é aquela extremamente futurista para uma sociedade 5.0 altamente conectada e super inteligente. Quando, na verdade, a que necessitamos é uma IA  que nos ajudas”, disse. 

Segundo pesquisas, a infraestrutura de IA é muito cara e está distribuída de forma desigual, grandes investimentos nos últimos anos estão em infraestrutura, pesquisa e governança. “Porém para a IA que precisamos é fundamental a colaboração entre indústria e academia. Não conseguimos fazer isso aqui, mas já ocorre lá fora. A corrida pela IA é comercial e científica, por isso as big techs estão muito presentes na pesquisa”, revelou. Para Nogueira, o Brasil é pioneiro na produção de pesquisa e produção de IA. 

IA e crescimento inclusivo 

Fernando de Rizzo, CEO da Tupy e representante do B20, acredita que o crescimento inclusivo faz parte da proposta brasileira para o G20. Ele defendeu que o B20 deve concentrar os trabalhos nos impactos e desafios da transformação da IA em vez de focar no desenvolvimento das tecnologias. O grupo de trabalho deve propor recomendações que possam causar transformação e propor o progresso inclusivo sustentável e ético. “Pela primeira vez a inteligência artificial fará parte formalmente das recomendações do grupo”, pontuou. 

Luiz Aranda, CEO da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), apresentou os resultados do grupo de pesquisa sobre tecnologia da organização.  Aranda indicou que é preciso um plano de computação eficaz para os países, e isso significa ter habilidades e ambiente político para efetivamente acessar e usar os avanços da computação. Outro ponto importante é a sustentabilidade, em 2022, os data centers no mundo consumiram mais eletricidade do que alguns países da OCDE, como Itália e Noruega. 

No entanto, esse consumo de energia permaneceu praticamente constante, em torno de 1% da demanda global de energia na última década. A explicação para não haver aumento no consumo de eletricidade é o fato da melhora da eficiência de hardware ao longo do tempo. Segundo Aranda, “somente encontrando essas eficiências seremos capazes de tornar o desenvolvimento de sistemas avançados sustentável, acessível às economias emergentes como os Brics. Isso também vai ajudá-los a desenvolver sua própria soberania digital à medida que avançam”.

Veja a integra do evento:

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