ECONOMIA DIGITAL

Assimetrias no acesso às inovações tecnológicas limitam avanço da Inteligência Artificial no Sul Global

Em evento paralelo do GT de Economia Digital do G20, em Brasília, especialistas destacam os debates globais sobre desigualdades de acesso às tecnologias de Inteligência Artificial para países do Sul Global. Também reforçam a necessidade de inclusão e autonomia estratégica para soberania digital das economias em desenvolvimento.

17/04/2024 19:00 - Modificado há 14 dias
GT de Economia Digital do G20 promove evento paralelo sobre inteligência artificial, igualdade social e desenvolvimento sustentável, em Brasília | Foto: Audiovisual G20 Brasil
GT de Economia Digital do G20 promove evento paralelo sobre inteligência artificial, igualdade social e desenvolvimento sustentável, em Brasília | Foto: Audiovisual G20 Brasil

As assimetrias globais no acesso às inovações tecnológicas limitam a soberania dos países em desenvolvimento no tema da Inteligência Artificial (IA). Esse contexto motivou a realização do evento paralelo do G20 “Aproveitando a IA para equidade social e desenvolvimento sustentável”, promovido nesta quarta-feira, 17, em Brasília. Especialistas em IA da Índia, África do Sul, Brasil e representantes da América Latina discutiram os desafios globais, a superação das desigualdades de infraestrutura para o desenvolvimento e os impactos do uso da IA na sociedade.   

Para Tomas Lamanauskas, secretário-geral da UIT (União Internacional de Telecomunicações), agência da ONU, a ascensão da IA ​​despertou temores de um futuro dominado por máquinas, semelhante às cenas de filmes de ficção científica. Mas a realidade apresenta uma visão muito mais promissora e esperançosa, que não tem relação com o aumento da desinformação, dos discursos preconceituosos ou interferências em processos democráticos, embora essas questões não possam ser subestimadas. 

“Poderia acrescentar aproximadamente 4,4 bilhões de dólares à economia global. Estima-se que as soluções em IA poderiam ajudar a mitigar 5% a 10% das emissões globais de gases de efeito de estufa. Desde os avanços nos cuidados de saúde até à eficiência agrícola e à gestão de catástrofes, a IA acelera o nosso progresso no sentido de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”, exemplificou Lamanauskas.

“Não há nada de errado com a grande inovação que estes países oferecem ao mundo, mas o fato é que ela está altamente concentrada”, declarou Gabriela Ramos, da diretoria-geral de Ciências Sociais e Humanas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em vídeo enviado ao evento sobre a distribuição de infraestrutura, ativos e habilidades para o desenvolvimento e implementação da AI atualmente estar concentrada em poucos países e poucas empresas. 

Santos apresentou dados do Relatório do Índice de Inteligência Artificial 2024, produzido pela da universidade americana de Stanford, dando conta de que o investimento privado em tecnologia atingiu 96 bilhões de dólares em 2023. 70% desse montante tem liderança dos Estados Unidos, China e Reino Unido, que concentram cerca de 80% de todos os investimentos para o desenvolvimento da AI no mundo. “É claro que o modelo de negócio da IA ​​precisa de ser mais inclusivo e os benefícios ​​melhor distribuídos”, defendeu. 

“Metade da população mundial não tem acesso a uma Internet estável e sabemos que são necessários financiamento significativo, capacidades informáticas e competências e nem todos os países possuem estas ferramentas. O Sul Global pede não só para poder acessar a tecnologia, mas desenvolvê-la por si próprios para manter a diversidade cultural e representar bem as preocupações e as necessidades de cada país. O G20 tem muito a oferecer. A presidência brasileira está realmente colocando o dedo nas questões certas”, pontuou Gabriela Ramos. 

Sul Global e soberania em IA

Virgílio Almeida, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), proferiu palestra magna em evento paralelo do G20 sobre Inteligência Artificial | Foto: Audiovisual G20 Brasil
Virgílio Almeida, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), proferiu palestra magna em evento paralelo do G20 sobre Inteligência Artificial | Foto: Audiovisual G20 Brasil

Virgílio Almeida, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em palestra magna, destacou as assimetrias globais no acesso às tecnologias, a dominação do mercado por de poucas plataformas, as ameaças às democracias e a formação de grupos geopolíticos que dominam a cadeia de produção digital como desafios para a soberania do Brasil e outras economias emergentes em Inteligência Artificial.

Compreendendo a soberania como a capacidade dos países de controlar e resolver as questões no mundo digital, Almeida indica que a ampliação das condições do Sul Global de lidar com a IA necessitam primar por uma autonomia estratégica e decidir em quais aspectos essenciais da influência digital na economia, na sociedade e na democracia os governos podem atuar. 

O professor da UFMG também pontuou as limitações para que os países alcancem a soberania digital, entre elas, a necessidade de ter pesquisadores habilitados nas  tecnologias de IA; uma política de uso de dados na IA; infraestrutura computacional capazes de processar grandes base de dados para a IA e a instrumento de regulação e governança para as plataformas, entre outros.

G20: AI e inclusão digital 

De acordo com o embaixador Luciano Mazza, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Propriedade Intelectual do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e coordenador do grupo de trabalho de Economia Digital do G20, que promoveu o evento, a prioridade da presidência brasileira do fórum é discutir a Inteligência Artificial dentro da perspectiva da inclusão digital, bem como o “uso ético e responsável, a mitigação de riscos; e a proteção e promoção dos direitos humanos e fundamentais”.

“Países do Sul Global estavam ausentes desses debates internacionais sobre Inteligência Artificial. Entendemos que essas questões de desenvolvimento devem fazer parte da agenda global da governança em IA. A expectativa é que os trabalhos contribuam para convergências crescentes no tema”, explicou o embaixador.

Veja também

Carregando